Como a nova política industrial brasileira pode ajudar o país a se desenvolver e ser mais competitivo? Esse foi um dos questionamentos levantados durante a quarta edição do Projeto G20 no Brasil, uma iniciativa dos jornal O Globo e Valor Econômico e da rádio CBN. O evento, que tem por objetivo traduzir, dar visibilidade e conectar os temas que serão discutidos nos grupos do G20, ocorreu nesta quarta-feira, 21, na sede da editora Globo, no Rio de Janeiro.
Com o tema ‘A nova política industrial brasileira e o desafio de se tornar competitiva’, o evento reuniu membros do grupo de trabalho do G20, especialistas, acadêmicos, analistas e sociedade civil.
Participaram do primeiro painel ‘A política industrial brasileira, seu financiamento e seu impacto na vida das pessoas’, a diretora de Sustentabilidade e Assuntos de Defesa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Perpétua Almeida, o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi, o pesquisador do Insper, Naercio Menezes Filho, e o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luís Gordon. A mesa foi mediada pela repórter especial do Valor Econômico, Lu Aiko.
A nova política industrial brasileira, que tem foco na inovação, na digitalização e na transição para uma economia de baixo carbono, visa resgatar o papel do setor no país e pavimentar o caminho para a efetiva participação do Brasil na elaboração de estratégias para um planeta inclusivo e sustentável.
Em sua fala, Perpétua Almeida destacou o avanço da política industrial brasileira com o anúncio de R$ 42,7 milhões para o Plano Mais Produção, somados aos R$ 300 bilhões destinados pela Nova Indústria Brasil (NIB).
“Esse dinheiro que o governo federal está colocando acaba se triplicando por causa dos investimentos que o setor privado tem feito na indústria, impulsionado pelos investimentos do governo Lula. O dinheiro do Estado brasileiro atrai o setor privado para seus próprios investimentos”, disse.
Responsável por 25,5% do PIB do país, a indústria se reflete no dia a dia dos brasileiros. Para o pesquisador do Insper, a base para uma indústria forte, produtiva, competitiva e sustentável é o investimento em educação de qualidade.
“Como que os nossos trabalhadores vão conseguir lidar com essas transformações tecnológicas se eles não têm o conhecimento básico de matemática, por exemplo, nem de ciências? Então, eu acho que esse é o aspecto, na minha visão, mais importante para a gente conseguir transformar a sociedade brasileira, inclusive a indústria”.
Segundo Gordon, a efetivação da política industrial de inovação requer, além do investimento em educação, uma parceria forte entre o setor público e setor privado.
“Precisamos entender a importância que tem a política industrial para o país, podemos educar e formar pessoas, mas se não tivermos uma indústria para essas pessoas trabalharem e poderem exercer a educação que eles tiveram, você acaba desperdiçando essa formação”, destacou. “O Brasil precisa ter uma política industrial constante, que tenha relação entre o público e privado de forma a fortalecer o setor empresarial e o setor estatal. Não existe Estado forte sem setor privado forte, não existe setor privado forte sem Estado forte”.
Rafael Lucchesi reforçou os temas citados pelos colegas de mesa e destacou que o Brasil tem a oportunidade de se destacar no cenário mundial, sobretudo com seu potencial na economia verde.
“A agenda do Brasil para a construção do futuro é capturar três oportunidades que estão acontecendo: o advento da nova economia, a inteligência artificial, internet das coisas; a emergência climática. O Brasil é uma economia verde e sustentável, são oportunidades como essas que o Brasil, que lidera o G20 esse ano, precisa aproveitar”.
Questões regulatórias
Questionada sobre como deslanchar o investimento em inovação, diretora da Agência é objetiva: é urgente destravar questões regulatórias que impactam nos investimentos e “nesse sentido buscamos parcerias para apoiar instituições, como Anvisa, Ibama e Agência Nacional de Mineração, cujas instituições precisam de investimentos”.
“Quando você olha, parte do PAC está nessas instituições aguardando liberações. O dinheiro fica parado, à espera de decisões. E isso implica nos investimentos em novas tecnologias, porque parte do dinheiro que o setor privado quer investir está parado em algumas instituições regulatórias”, disse Almeida.
E acrescentou: “E nós da ABDI estamos oferecendo o nosso apoio e apostando na inovação e modernização dessas instituições. Elas são partes fundamentais para o avanço dos investimentos públicos e privados no desenvolvimento e indústria nacional”.
Com o tema ‘Passo a passo para o desenvolvimento inclusivo e sustentável: o que pensam as empresas brasileiras’, o segundo painel contou com a participação do diretor executivo da Reservas Votorantim, David Canassa, da sócia-fundadora da EB Capital, Luciana Ribeiro, do vice-presidente do Grupo Stefanini, Ailton Nascimento, e da cofundadora do Conselheira 101, Jandaraci Araújo. A mesa foi mediada pelo jornalista da rádio CBN Frederico Goulart.
Fotos: Eduardo Uzal