Como as tecnologias 4.0 podem ajudar o agronegócio a ser mais produtivo, sustentável e com menos custos? Essa foi a pergunta que norteou a 3ª edição do Fórum Agro 4.0, realizado nesta quinta-feira (31). O evento, que reuniu especialistas, fornecedores de tecnologia, ambientes de inovação e autoridades, é uma parceria entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Correio Braziliense. Também estiveram em pauta de que forma a agricultura familiar pode se beneficiar dessas tecnologias e as iniciativas que estão sendo desenvolvidas nessa direção.
A coordenadora geral substituta de Articulação para Inovação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), parceiro da ABDI nos editais para projetos no agronegócio, Carolina Saraiva, abriu o Fórum, falando sobre a importância da inovação agropecuária.
“Sabemos que as soluções inovadoras e disruptivas que, em sua maioria, envolvem as tecnologias 4.0, vêm revolucionando a vida no campo, já que buscam não só resolver gargalos dos produtores rurais, mas também trazer mais eficiência aos processos produtivos, aumentando a produtividade e reduzindo riscos e custos, além de agregar valor aos produtos produzidos no Brasil”, afirmou.
A questão da conectividade no campo também foi mencionada por ela. Com base em estudos realizados com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, em parceria com o Mapa, Carolina apontou que o investimento em conectividade, saltando de 23% do território para 50%, aumentaria a produção de alimentos em 50 bilhões de reais ao ano.
O presidente da ABDI, Igor Calvet, destacou o papel da Agência, que atua desde 2020 na promoção da adoção e difusão das tecnologias habilitadoras no campo, por meio de editais. “Temos a convicção de que o aumento da produtividade, da competitividade, da sustentabilidade no agro dependem, em grande medida, do uso da tecnologia”.
"O aumento da produtividade, da competitividade, da sustentabilidade no agro dependem, em grande medida, do uso da tecnologia"
Para ele, chegar ao terceiro Edital do Agro significa que os resultados obtidos foram muito positivos. “Os pilotos conseguiram reduzir o uso de fungicidas e de fertilizantes, de água e energia elétrica, com uso da inteligência artificial, de drones, de visão computacional. Tudo isso passou por fomento da ABDI”.
Calvet explicou que a ABDI volta agora seus olhos também para a agricultura familiar. “É um potencial gigantesco no Brasil em termos de produção de alimentos e não poderiam estar apartados desse processo de transformação digital e tecnológica”, concluiu.
No primeiro painel do Fórum foi discutida a potencialidade de difusão dos ecossistemas de inovação e apresentados dois projetos de adoção de tecnologias no campo, e que foram selecionados pelo segundo Edital do Agro 4.0. Um deles utiliza tecnologia para realizar o monitoramento do solo de maneira preditiva para fazer a correção antes do dano, além de reduzir o uso de fertilizantes. O segundo trata da gestão e do controle de produção para a avicultura.
Internet das Coisas
Por meio da solução IoT e de um software de gestão, é realizado o monitoramento, em tempo real, do bem-estar das aves e da produtividade de cada aviário. “Os dispositivos fornecem informações da qualidade do ambiente, do consumo de ração, do peso das aves e dos índices zootécnicos relacionados à produção. Esses dados auxiliam o produtor no manejo e na tomada de decisão”, explicou o gerente de Inovação da Coopavel, Kleberson Angelossi.
O coordenador do Grupo de Políticas Públicas da Esalq, Rodrigo Maule, falou sobre o estudo que a Escola está desenvolvendo com a ABDI para elaboração de uma cesta de indicadores de desempenho de projetos de soluções agro 4.0. “A ideia é que esses indicadores, referentes à produtividade, renda, relação de custo abordem também outros como fatores, como os ambientais e sociais”.
As tecnologias digitais para o pequeno produtor rural foram apresentadas no segundo painel do evento. O coordenador-geral de Cooperativismo e Associativismo do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Rogério Mauro, abriu o debate, apresentando um panorama da agricultura familiar no Brasil e as iniciativas para ajudar esses produtores na adoção de tecnologia.
Agricultura Familiar
“Quando a gente fala em agricultura familiar, ela representa 73% dos estabelecimentos rurais, ocupa 23% do território do país e envolve mais de 10 milhões de pessoas, com um papel preponderante na produção de alimentos. E temos inúmeros desafios para enfrentar: infraestrutura, conectividade, analfabetismo digital”.
Ele afirmou que o MDA tem várias ações para fortalecer a agricultura familiar, como a retomada de assistência técnica de extensão rural, ações para o fortalecimento do cooperativismo e dos empreendimentos coletivos, e investimentos na agroindustrialização. “A tecnologia é o cimento disso tudo. Sem ela, é impossível pensar no avanço dessas políticas, para melhorar renda e qualidade de vida dos nossos pequenos produtores”.
A coordenadora de Projetos de Cooperação Internacional da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Adriana Gregolin, também citou os desafios que a agricultura familiar precisa superar: baixa produtividade, o envelhecimento dos produtores porque os jovens não querem permanecer no campo e adaptação às rápidas transformações que acontecem no agro nos últimos 20 anos.
“O impulso tecnológico, tão importante no campo, pode gerar resultados indesejados se não abordamos também a questão socioeconômica e ecológica. Não dá pra desconectar a questão da agricultura digital com as mudanças climáticas. É preciso fortalecer o planejamento, monitoramento e aproveitar os pilotos para multiplicar”, concluiu.
Coordenadora do programa Agro 4.0 da ABDI, a analista Isabela Gaya realizou o fechamento do Fórum, enfatizando que, apesar da necessidade de avançar nas políticas públicas, já existem tecnologias disponíveis mesmo para os pequenos produtores. Ela também fez um convite para que produtores rurais, cooperativas, agroindústrias e startups participem do terceiro edital, que está com inscrições abertas até o dia 18 de setembro, e vai selecionar três projetos na área de gestão estratégica de dados.