Em entrevista ao podcast do jornal Correio Braziliense nesta quarta-feira (17), o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, destacou a atuação da agência para apoiar a nova política industrial do Brasil, enfrentar gargalos regulatórios e ajudar a promover a reindustrialização do país.
Segundo Cappelli, a Nova Indústria Brasil (NIB), lançada pelo Governo Federal, é uma resposta necessária após quase uma década sem iniciativas significativas na área. A política visa alinhar o Brasil com as tendências globais de reindustrialização. Ele mencionou um estudo publicado pelo observatório de pesquisadores vinculados ao FMI, que apontou que, somente em 2023, 2.500 novas políticas industriais foram implementadas a nível mundial. Dessas, 48% estão na China, EUA e União Europeia, impactando aproximadamente 71% do comércio mundial.
Entre as medidas destacadas, citou o Plano Mais Produção – criado para viabilizar, de forma contínua, o financiamento da NIB, mobilizando R$ 300 bilhões em apoio a projetos de neoindustrialização entre 2024 e 2026 – disponibilizando créditos para a modernização do parque fabril brasileiro. “Agora as empresas podem renovar o seu parque fabril e abater isso dos impostos em apenas dois anos. Isso vai acelerar muito a troca de máquinas e a modernização do parque industrial brasileiro”, disse o presidente da ABDI.
Outras iniciativas incluem o Mover, programa do Governo Federal que prevê um total de R$ 19 bilhões de créditos financeiros entre 2024 e 2028, que podem ser usados pelas empresas para abatimento de impostos federais em contrapartida a investimentos realizados em P&D e em novos projetos de produção, além de ações que já resultaram na elevação do Brasil em 15 posições no ranking de produção industrial no primeiro trimestre de 2024.
Regulação
Ricardo Cappelli enfatizou que uma questão central para a ABDI é a atuação no ambiente regulatório brasileiro, auxiliando outros órgãos a destravarem os gargalos. Ele destacou que a agência já assinou acordo de cooperação técnica com a ANM (Agência Nacional de Mineração) e está em vias de formalizar parcerias com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “A Agência Nacional de Mineração tem, hoje, 215.000 processos na fila e 21.000 pedidos de pesquisa e lavra aguardando avaliação. Estamos lá reestruturando sistemas, implementando inteligência artificial, remodelando os fluxos de processos e reorganizando o modelo de gestão da agência para agilizar esses procedimentos”, explicou.
O presidente da ABDI também destacou a importância de destravar investimentos privados para impulsionar o desenvolvimento. “O Brasil tem uma situação fiscal comprimida, por isso é fundamental acelerar e destravar o investimento privado,” pontuou.
Encomendas Tecnológicas
Durante a entrevista, outro ponto abordado foi a atuação da ABDI para estimular o potencial de uso das encomendas tecnológicas, ajudando o setor e empresas públicas a utilizar a Lei de Inovação para resolver problemas específicos e desenvolver inovação no Brasil. Cappelli mencionou contratos em andamento com a Petrobras e os Correios. “Estamos dando consultoria técnica e jurídica para que a Petrobras e os Correios utilizem seu poder de compra para estimular a inovação no país,” explicou.
Transição energética
Cappelli destacou a vantagem estratégica do Brasil na transição energética devido à sua matriz energética, predominantemente, renovável. “A média da OCDE para a matriz elétrica de fontes renováveis nos países desenvolvidos é de 55%, enquanto o Brasil já possui mais de 90% de sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis. Assim, a meta de descarbonização que os países desenvolvidos estão projetando para 2050, o Brasil já atingiu hoje, em termos de geração de energia total”, afirmou.
Essa vantagem coloca o país em uma posição privilegiada para atrair investimentos de empresas que buscam descarbonizar suas operações. Com os melhores índices de incidência solar e ventos constantes, o Brasil tem um grande potencial para a expansão da energia fotovoltaica e eólica. “Então, temos aqui uma janela de oportunidade na transição energética para atrair ao Brasil plantas de empresas que precisam descarbonizar suas linhas de produção. Podemos reindustrializar o Brasil aproveitando essa vantagem estratégica de nossa matriz energética limpa”, finalizou.
Assista a entrevista completa aqui.