ABDI recebe pesquisadores da Universidade Johns Hopkins em agenda sobre transição energética

ABDI recebe pesquisadores da Universidade Johns Hopkins em agenda sobre transição energética

Encontro discutiu potencial brasileiro de liderar transição energética no mundo

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) recebeu, nesta quinta-feira (10), pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, para uma conversa sobre a política industrial verde e o potencial brasileiro de assumir a liderança global na agenda de transição energética. No início deste ano, uma pesquisa do Net Zero Industrial Policy Lab (NZIPL), ligado à instituição norte-americana, apontou o Brasil como um dos quatro países com maior capacidade de orientar a mudança gradual de fontes de energia poluentes (como combustíveis fósseis) para fontes de energia renováveis e limpas.

O estudo analisou sete setores estratégicos para a economia verde até 2050: minerais críticos, baterias, veículos elétricos híbridos com biocombustíveis, combustíveis sustentáveis para aviação, equipamentos para energia eólica, aço de baixo carbono e fertilizantes verdes. O Brasil tem destaque na diversidade de recursos naturais e pela base industrial já construída, o que possibilita um ponto de partida sólido para o desenvolvimento da “indústria verde”.

O painel foi conduzido pelo pesquisador brasileiro Renato H. de Gaspi, que destacou os principais desafios apontados pelo estudo. “O primeiro é a garantia de demanda para outros produtos da descarbonização, para assegurar que quem investir vai ter demanda para o produto. Além disso, precisa-se de políticas tecnológicas para que essa demanda encontre a oferta também. Não é só ter demanda, você precisa produzir aqui, senão a gente vai demandar importados.”

Gaspi também destaca a importância da coordenação entre atores políticos, empresariais e sociedade civil para o sucesso da política industrial, que, segundo ele, “não é foto, é filme”. “Política industrial vai mudar com o tempo, e isso tem que ser conversado, negociado, pactado.”

O pesquisador brasileiro pontua, contudo, que o país também deve considerar os movimentos macroeconômicos. “Política industrial não existe no vácuo. Ela existe em um contexto internacional. O Brasil está muito bem posicionado, com vantagens claras. Com as políticas certas, a gente vai sair na frente, mas os desafios são reais e são desafios de natureza técnica, política e econômica.”

Diretor do NZIPL, especialista em políticas climáticas e líder da pesquisa, Tim Sahay compreende que, ao fomentar a Nova Indústria Brasil, o país deve ampliar conhecimentos, sofisticação tecnológica e a compreensão de sua posição em um mundo em transformação. “O Brasil realizou missões muito importantes com a Nova Indústria Brasil, e elas exigem muito pensamento e planejamento cuidadosos para seu sucesso. O país precisa encontrar vínculos produtivos entre clientes, fornecedores e fabricantes no mercado interno. Mas, em outros casos, é necessária muita colaboração internacional. Nós, da Johns Hopkins, estamos interessados ​​em criar uma cadeia de suprimentos internacional, colaboração internacional, para que o Brasil possa atingir seu pleno potencial.”

Gerente da Unidade de Monitoramento e Avaliação da ABDI, Roberto Pedreira celebrou o encontro com os pesquisadores da Universidade Johns Hopkins. Na avaliação dele, o contato com teóricos amplia percepções que podem ser adotadas na rotina na Agência. “A ideia foi justamente poder aproximar cada vez mais a ABDI da academia. Há uma ligação muito forte com os trabalhos que são realizados pela ABDI. A gente pôde se apropriar de algumas informações, de um olhar que também foi rico para nos mostrar se a gente está no caminho certo”, afirmou.  

Encontro discutiu potencial brasileiro de liderar transição energética no mundo.

“O estudo apresentado pelos pesquisadores lança uma luz sobre questões estratégicas para o desenvolvimento industrial brasileiro. Três delas – o adensamento produtivo da cadeia do grafite, o impulso à cadeia de fertilizantes e biofertilizantes, e o desenvolvimento do combustível sustentável de aviação [da sigla em inglês, SAF] – proporcionam à ABDI a possibilidade de desencadear iniciativas importantes, como estudos de prospectivas – rotas tecnológicas – e articulações institucionais para subsidiar os grupos de trabalho das cadeias produtivas priorizadas na Missão 5 da Nova Indústria Brasil”, concluiu.

Descarbonização

A missão 5 da Nova Indústria Brasil destina R$ 468,38 bi, entre recursos públicos e privados, para bioeconomia e descarbonização. Desse total, R$ 88,3 bi são de recursos públicos de linhas de crédito – oriundas do Plano Mais Produção – para projetos que envolvam atividades como inovação, exportação, produtividade, sendo que R$ 74,1 bi já foram contratados entre 2023 e 2024. Outros R$ 14,2 bi estarão disponíveis para 2025 e 2026.

Em dezembro do ano passado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), presidido pelo vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, anunciou metas da missão 5 para 2026 e 2033.

Entre as metas anunciadas, estão: ampliar a participação dos biocombustíveis e elétricos na matriz energética de transportes, em 27%, em 2026; e 50%, em 2033; e ampliar o uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela indústria em mais de 10%, em 2026; e 30%, em 2033.

Na ocasião, também foram anunciadas as cadeias prioritárias para o desenvolvimento industrial da missão. São elas: diesel verde e combustível sustentável da aviação (SAF); hidrogênio de baixa emissão de carbono; Biometano; aço e cimento verde; aerogeradores; e painéis solares.

Foto: João Miguel/ABDI