Vivemos um período de intensas transformações e rupturas. O domínio da ciência e da tecnologia sobre o processo de produção tem trazido profundas consequências sobre a indústria e a sociedade. Os objetos que nos cercam, a forma como nos movemos, habitamos, trabalhamos e nos divertimos está repleta de tecnologias.
Para onde nos leva o desenvolvimento tecnológico? Qual o impacto sobre a sociedade? Como afeta o mundo da produção e do trabalho?
O advento da bomba atômica lançada sobre Hiroshima, em 06 de agosto de 1945, fez com que a ciência e tecnologia perdesse a inocência. O que nos aparenta ser puramente avanço técnico é, na verdade, opção que acaba por moldar as relações sociais e políticas de uma sociedade.
A convergência entre o mundo físico e o mundo digital penetra profundamente a esfera da produção, conformando processos integrados, automáticos e inteligentes, atualmente nominados pelos norte-americanos de manufatura avançada e pelos alemães de indústria 4.0. Independente do nome ou dos arranjos empresariais que se formam para promover e vender equipamentos e serviços, a utilização intensiva na indústria de tecnologias de informação e comunicação, de robôs, de grandes massas de dados analisadas em tempo real, da inteligência artificial, da nanotecnologia, etc, transformam profundamente as esferas da produção e do labor humano.
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O uso integrado das tecnologias permite, no nível das fábricas (ou de seus arranjos), a promoção do trabalho e da produção em rede vertical, através da utilização de sistemas físico-cibernéticos. Tais sistemas operam prontas respostas às mudanças na demanda de bens, produtos, serviços; na logística e gestão de suprimentos; no marketing e na individualização do produto ou do serviço; na qualidade do produto e dos suprimentos utilizados; nos defeitos de equipamentos; etc.
As possibilidades de integração horizontal apontam e resultam na conformação global ou regional de grandes cadeias e redes de valores, que podem ser consubstanciadas na criação e integração de novos modelos de negócios; em plataformas globais de produção; na produção descentralizada de sistemas (softwares) e de inovações. A consequência principal de todos estes processos tem sido, por um lado, o aumento colossal da produtividade e, de outro, a redução drástica dos custos de produção. No tocante a todo o sistema de produção, os elementos intangíveis ganham notória participação (e até preponderância).
Estendendo a reflexão dos impactos da indústria 4.0 para o mundo do trabalho, surge no horizonte incertezas e inseguranças quanto ao porvir. Existem aqueles que advogam que os processos automatizados, a adoção de robôs na produção, a inteligência artificial resultará na supressão de uma gama importante de empregos e funções, abrangendo desde trabalhadores pouco qualificados, até profissionais de áreas tradicionais, a exemplo do Direito, Educação e Saúde. Por consequência, haveria o aumento das desigualdades sociais, certamente um dos grandes desafios globais hoje. Explicitam a existência de um paradoxo na divergência entre o aumento da produtividade (principalmente industrial), e o desenvolvimento social, balizado pelo nível de emprego e renda das pessoas.
Produtividade do trabalho vs renda e emprego
De outra parte, há os que preconizam que a destruição dos postos de trabalho será compensada pela criação de outros, incluindo funções e profissões que ainda nem existem. De forma muito genérica, traçam um perfil do profissional do futuro, do qual será exigido flexibilidade, resiliência, capacidade para trabalhar de modo colaborativo com os robôs, competência para lidar com grande volume e diversidade de informações, entre outras.
O certo é que o acelerado avanço científico tecnológico e a forma como tem se atomizado no âmbito das sociedades e das relações de existência humana suscita desafios no campo da moral e da ética. Não se trata de abster ou renunciar aos avanços tecnológicos, senão, de criar formas civilizadas de coloca-los a serviço do desenvolvimento humano e do bem comum