“Qualquer construção acaba custando mais caro que o planejado por erros durante a obra”. Isso foi o que ouviu a chefe do departamento de BIM da Sinco Engenharia, Priscila Castro, quando começaram as conversas para projetar o Cantareira Norte Shopping em São Paulo. Porém, a estrutura complexa de 75 mil metros quadrados – pouco mais de sete campos de futebol – feita para abrigar 220 lojas, praça de alimentação e estacionamento, não gastou um centavo a mais por equívocos entre o projeto e a execução da obra. “Não tivemos mudança, tudo foi projetado e realizado como pensado”, destaca Priscila.
A “mágica” foi o modelo de construção adotado – o Building Information Modeling (BIM), em português Modelagem da Informação da Construção. O BIM, segundo a chefe do departamento da Sinco, diminui os riscos da obra. “Toda edificação é montada antes em três dimensões (3D). Então, os erros aparecem na fase de projeto e não no canteiro de obra, onde um equívoco é muito mais caro”. Com a modelagem virtual não existe erro de interpretação por nenhum agente da construção. Diferente dos projetos em duas dimensões, onde é preciso interpretar como os desenhos se tornam realidade, no 3D a visualização é completa.
Outro fator que reduz os custos é o fluxo entre a construção e a chegada dos materiais. Com essa modelagem, é possível prever de forma mais eficiente quais peças terão que chegar no canteiro de obras e em que momento. “Quando víamos no projeto que ia faltar algo, alertávamos o fornecedor. Eram feitas varreduras semanais no canteiro de obra e colocadas no programa de computador em BIM. Estávamos sempre uma semana à frente do problema”.
O resultado final foi a entrega do empreendimento em outubro de 2015, com absolutamente nenhum desembolso por equívoco no canteiro de obras. O professor da escola politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e especialista no tema, Eduardo Toledo, esclarece que o desenvolvimento de um projeto em BIM pode custar até 20% a mais do que um convencional. “Mas esse custo extra é diminuído no momento em que se encontra um erro de projeto. Caso o problema fosse detectado na fase de construção, seria preciso parar a obra e recontratar o projetista, acarretando um gasto desnecessário”. O professor também aponta que a velocidade em BIM não é necessariamente mais rápida. “O que muda é a previsibilidade, a construção não para, como uma obra no modelo convencional”, pontua.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) incentiva o BIM no país. Uma parceria, entre a ABDI e ABNT, lançou um catálogo com seis normas técnicas para este tipo de obra. A Agência, ainda, editou seis guias para orientar as construções. Em 2018, estará no ar a plataforma BIM, que vai agrupar todo este conteúdo e organizar uma biblioteca de peças para os projetistas.