Brasil gasta cerca de R$ 811 bilhões por ano com logística

Brasil gasta cerca de R$ 811 bilhões por ano com logística

O valor corresponde a 12,3% do PIB nacional

O custo de logística é um desafio para o Brasil. O país tem dimensões continentais e é a quinta maior nação do mundo em extensão territorial. Mais de 12% de todas as riquezas do Brasil são consumidas com logística – soma de transporte (60%), estoque (31%), armazenagem (5%) e administrativo (4%) – segundo a Ilos, consultoria especializada em logística. O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Guto Ferreira, aponta que este é um dos principais gargalos para a crescimento da economia. “Os gastos com transporte, armazenamento e estocagem ultrapassam o espaço ocupado pela indústria no PIB – 11,8%, segundo dados do IBGE. Nosso sistema atual de transporte de carga, baseado em rodovias, acarreta um custo elevado para o país”, diz o presidente da ABDI.

Dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) apontam que de cada 10 produtos transportados no Brasil, seis são enviados por rodovias. As ferrovias são utilizadas em 20,7% dos deslocamentos e o transporte aquaviário responde por 13,6%. Encerram a lista os tipos dutoviário (4,2%) e aéreo (0,4%). Para o diretor de relações internacionais da CNT, Harley Andrade, a diversificação da malha é uma necessidade. “Nós transportamos a maioria das nossas cargas por estradas. Nas rodovias, temos uma série de problemas como pavimentação e manutenção”, aponta. Um relatório da CNT indica que nas estradas pavimentadas, 61% apresentam problemas. “Isso consome muitos recursos. É caro para quem contrata e é pouco remunerado para quem opera”.

Segundo o ranking do Banco Mundial de desempenho logístico, de 2014, o Brasil aparece na 65º posição. Comparado às economias emergentes dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o país fica apenas na frente da Rússia. A África do Sul, por exemplo, aparece 31 posições à frente, ocupando o 34º lugar.

O presidente da ABDI, Guto Ferreira, destaca que a diversificação da matriz é um caminho para melhorar a eficiência. “Aumentar o escoamento de cargas por outros modais é um passo fundamental para diminuir o custo. Pelo Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), o ideal é aumentar a participação de trens e navios”. Segundo o PNLT, a participação de ferroviais deveriam aumentar para 35% e de hidrovias para 29% tornando o sistema brasileiro mais equilibrado.

Centro Global de Inovação em Logística

Ferreira ainda aponta que o Brasil precisa investir em tecnologia. “Pensando nisso, a ABDI firmou uma parceria com HyperloopTT para instalar um Centro Global de Inovação em Logística no país. Outras iniciativas como essa precisam ocorrer para que o Brasil possa encontrar soluções e alternativas”. Com operações previstas ainda para este ano, o centro da Hyperloop abrigará a divisão de pesquisas de logística, um laboratório de fabricação e um ecossistema de empresas líderes globais, startups, universidades, inovadores, cientistas e governos do mundo inteiro que estejam focados em resolver crescentes demandas em logística. O centro será instalado em Contagem (MG) e terá investimento de R$ 26 milhões.

“O Estado de Minas Gerais e o município de Contagem, em particular, são um dos centros de distribuição de carga mais importantes para o Brasil”, diz Bibop Gresta, presidente da HyperloopTT. “Com uma posição geográfica estratégica, uma alta concentração de grandes indústrias, e uma dedicação à inovação, é o local ideal para o Centro Global de Inovação em Logística da HyperloopTT”, disse.

Investimento

Pelos cálculos da CNT, para o Brasil atingir excelência em logística seria necessário o investimento de R$ 1 trilhão. “A inovação é fundamental, mas não é tudo. Um aplicativo não resolver, por exemplo, a falta de uma estrada ou de uma ferrovia”, relata Harley Andrade. O diretor de relações internacionais da CNT ainda destaca que o investimento precisa ocorrer em todos os setores, não apenas nas rodovias, e também em todo o país.

As estações aduaneiras de interior, também chamadas “portos secos”, estão mal distribuídas. O estado de São Paulo concentra a maioria destas estruturas, 28 das 62 de todo o Brasil. Em contraste, as regiões Nordeste e Norte têm duas estações cada, localizadas em Recife e Salvador, Belém e Manaus. A região Sul apresenta 11 cidades com portos secos e o Centro-Oeste, três. Apesar da extensa linha de fronteira do Brasil com o Peru, a Bolívia e a Colômbia, é na fronteira com a Argentina, o Paraguai e o Uruguai – países que, junto ao Brasil, compõem o Mercosul desde sua criação – que as interações entre os países vizinhos são mais dinâmicas, havendo, portanto, maior ocorrência de postos da Receita Federal.