O desenvolvimento de uma cidade inteligente deve respeitar os desejos do cidadão e, também, as possibilidades de implementação no munícipio. Este ponto foi consenso entre os participantes do painel “O papel das cidades para o desenvolvimento de uma sociedade digital e conectada”, ocorrido na Connected Smart Cities. O evento, que é o maior do Brasil sobre Cidades Inteligentes, termina nesta quarta-feira (5), em São Paulo. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), responsável por projeto de cidades inteligentes em parceria com o Inmetro, participa do encontro.
O diretor de relacionamento da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam), André Galvão, destacou que é preciso observar as diferentes populações na estruturação de um projeto de cidade inteligente. “Começamos olhando a tecnologia, mas vimos que ela é um suporte. Fizemos, então, seis grandes grupos de trabalho, voltados para saúde, educação, segurança. Dentro destas esferas, identificamos que as demandas podem ser completamente diferentes dependendo do bairro em foco. A expectativa de vida na periferia é 10 vezes menor que nos Jardins (bairro nobre de São Paulo), por exemplo”.
Pensando neste tipo de realidade diversa, o engenheiro de sistemas da empresa Atech, Claudinei Walker da Silva, defendeu que os projetos de cidades inteligentes comecem a ser pensados pelas áreas periféricas dos munícipios. “Do contrário, corremos o risco de levar tecnologia para um ambiente que já tem tecnologia. Afastando o cidadão das cidades inteligentes”. O especialista destacou ainda que a tecnologia não pode interferir no cotidiano. “Ela deve ser quase invisível e ajudar na tomada de decisão. Talvez esse seja o motivo de sucesso do Waze (aplicativo que indica rotas de trânsito). Os motoristas não precisam alterar o modo de dirigir o carro, o app apenas ajuda a decidir qual rota escolher”, pontuou.
Infraestrutura de rede
Outro desafio é a infraestrutura básica de conectividade, segundo o especialista da ABDI, Carlos Frees. “É preciso pensar em modelos de instalação de infraestrutura que garantam a conectividade sem onerar o cidadão”. Para Daniel Blanco, da empresa de tecnologia Furukawa, um dos caminhos é o compartilhamento de redes. “A questão que cabe é como utilizar a infraestrutura, que muitas vezes já existe, de forma compartilhada. Este uso comum não deve ficar restrito às empresas. As redes também podem ser divididas entre empresas e poder público, por exemplo”. Blanco explicou que questões técnicas não são um problema. “Atualmente, a capacidade de transmissão dos cabos de fibra ótica é enorme”. No Brasil, o compartilhamento da mesma estrutura de fibra ainda é pouco realizado. O mais comum é cada empresa montar sua própria estrutura.
Carlos Frees, da ABDI, encerrou o painel pontuando que, independente do caminho de implementação escolhido, as cidades inteligentes devem oferecer melhora de vida para a população. “Existem vários desafios, principalmente, regulatórios. Os projetos envolvem discussões entre prefeituras, Estados, União e iniciativa privada. Entretanto, o foco deve ser sempre o cidadão”.