Como criar uma boa ideia?

Como criar uma boa ideia?

O Startup Weekend, que acontece em São Caetano, está instigando cerca de 100 pessoas a encontrar soluções inovadoras em 54 horas

O desafio é criar soluções inovadoras para eletromobilidade em 54 horas. Estão reunidos no Instituto Mauá, em São Caetano do Sul (SP), cerca de 100 pessoas com essa missão. O evento Startup Weekend, promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), utiliza uma metodologia desenvolvida pelo Google para fomentar a criação de ideias.

Durante a manhã de sábado, os inscritos foram divididos em grupos e eles terão até o fim da tarde de domingo para desenvolver as soluções. Para auxiliar na difícil tarefa, o especialista em inovação da Softex – Osip que trabalha políticas públicas de Tecnologia da Informação (TI) -, Heygler de Paula, mostrou caminhos para criação de boas ideias. Segundo Heygler, é preciso atender uma demanda existente, conhecer o mercado e as condições tecnológicas. Confira a entrevista:

Quais os primeiros passos para desenvolver uma boa ideia?

O primeiro ponto é entender uma necessidade não atendida a partir da ótica do cliente. Depois que você viu que aquela é uma necessidade importante você precisa juntar um grupo de pessoas que consigam implementar aquilo, que consiga resolver aquele problema. Esse grupo de pessoas costuma ser um grupo heterogêneo, o que é complicado de se encontrar hoje em dia. Esse grupo de pessoas também vai entender quais as tendências tecnológicas existentes hoje. Eles vão surfando em ondas tecnológicas. Por fim, esse grupo de pessoas vai desafiar a ortodoxia. Quer dizer, acreditar que o existente no mercado não é um fato consolidado. Eles vão tentar propor coisas novas, abordagens diferentes para problemas antigos.

 

Qual a estratégia para se pensar uma inovação?

Toda a ideia tem que ser desejável, tem que ser tecnicamente possível e tem que ser economicamente viável. Se não tiver essa tríade, o que vai acontecer é a criação de um produto que ninguém usa ou de um modelo de negócio que as leis da física ou da biologia simplesmente não permitem nesse momento. Um exemplo disto é o tele transporte do Star Trek. Todo mundo gostaria de ter um tele transporte na sua vida. O problema é que as leis da física, de hoje, não permitem. O desenvolvimento de um produto precisa ser muito bem pautado na realidade. Do contrário, fica muito mais caro. Eu acho que o movimento de startups aproveita todo o conhecimento que, às vezes, está parado numa universidade para transformar isso em produto e esse produto em inovação tecnológica.

 

Como, do ponto de vista conceitual, se chega a uma boa ideia?

A boa ideia nasce a partir de um problema e a partir de uma experiência. Lá no Mato Grosso, por exemplo, tem a história de um produtor rural que foi até o banco pedir um empréstimo. Quando ele conseguiu esse empréstimo, a taxa de juros estava o dobro. Produtor rural trabalha com margens de negociação muito curtas. Ele ficou muito chateado com o gerente do banco, que era novo. Ele voltou para casa, esbravejou um pouco, pensou um pouco e esbravejou mais um pouquinho. Então, ele pensou. 'Não é que o banco não quer me emprestar o dinheiro. É que o gerente deste banco não sabe nada de agronegócio'. Com isso, o que ele fez? Criou uma escola que ensina o agronegócio para empregados de banco. Ele entendeu que é um mercado carente. Hoje, já tem mais de mil alunos, indo muito bem. Chama Escola Agro. Quando você dá um tiro na necessidade e naquele perfil de cliente, você consegue uma empresa muito rápido.

 

Qual o primeiro passo para criação de uma startup?

A startup está criando um produto hipotético para um mercado que talvez nem exista. Se eu parar para pensar, há alguns anos era impossível lançar produtos como Facebook, Tinder e Uber. Porque a tecnologia disponível de smartphones ainda não estava bem desenvolvida. Então, todo mundo que vive nesse mundo de startup, que está tentando desenvolver um produto de inovação tecnológica, lida com muita incerteza. Nós cultuamos a chamada cultura do erro. Quer dizer que errar é bom, diferente de outros mercados, aqui neste mercado de inovação errar é bom. Mas não é bom apenas errar, é bom aprender com os erros, para que você consiga ser mais rápida das próximas vezes. Então, quanto mais rápido você errar, mais rápido vai ser você aprender e mais fácil vai ser a sua próxima ideia de negócio dar certo. Nos Estados Unidos, não existe pesquisa para o Brasil, são cinco as tentativas antes de uma empresa dar certo.

O mercado brasileiro tem espaço para ideias novas?

O mundo está cheio de problemas. Então, cada vez que você tem um problema, você pode enxergar uma possibilidade de negócio. O mercado de statups está em franca expansão no Brasil. Se eu olhar o mercado de tecnologia da informação (TI), ele vem crescendo a taxas de 5% a 6% ao ano. Mesmo o setor de serviços tendo reduzido 2% no ano passado. Esse é um ponto que chama muito a atenção. Hoje, a gente vê cada vez mais startups, cada vez mais modernas. As empresas de base tecnológica crescem onde as empresas convencionais não tem maleabilidade para crescer.