Há milênios o homem se volta para o espaço em busca de respostas. A obsessão com os astros levou a humanidade a alcançar a lua, em 1969. Mas a corrida espacial estava apenas começando. O novo desafio, agora, é Marte. Enquanto isso, o Brasil busca desenvolver sua indústria espacial num contexto em que, cada vez mais, as tecnologias terrestres estão ligadas aos satélites que orbitam a Terra. Para estimular a criação de negócios no país, dias 27 e 28 de novembro será realizado o 2º Fórum da Indústria Espacial Brasileira, em São José dos Campos (SP). O evento é promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB).
“O Fórum apresenta a economia espacial brasileira, que envolve a participação de diversos setores como o industrial, o governamental, o de financiamento. Então, estamos estruturando um ecossistema cujo objetivo é explorar toda a cadeia, principalmente a questão produtiva relacionada ao setor espacial”, destaca o diretor da AEB, Carlos Gurgel.
Um dos destaques do Fórum é o “Desafio Espacial”. A ideia é que startups, empresas juniores ou grupos de pesquisa apresentem projetos que atendam demandas das indústrias espaciais. “Nós estamos falando de meteorologia, de observação da Terra e de comunicações. Um satélite, por exemplo, pode oferecer uma série de serviços, envolvendo uma cadeia de valor muito interessante para gerar emprego e renda para o Brasil”, explica o presidente da ABDI, Guto Ferreira. As empresas interessadas em participar fizeram uma inscrição prévia e enviaram os projetos. “Essas startups terão a oportunidade de apresentar suas soluções diretamente para o mercado, fomentando essa indústria”, conta a especialista da ABDI Larissa Querino.
Investimento privado
A AEB também vai divulgar, durante o evento, um levantamento sobre as demandas espaciais do Brasil. Os serviços espaciais são amplamente utilizados. Um dos principais demandantes é o poder público. A entrada de dinheiro privado na indústria, por outro lado, pode acelerar a inovação e também fomentar o aparecimento de desenvolvedores. Para o especialista em desenvolvimento industrial da ABDI, Cassio Rabello, o Brasil deve estar atento a essas oportunidades. “O país já tem um ecossistema que trabalha com esse tema. O Programa Espacial Brasileiro já obteve bons frutos. A região de São José dos Campos, no interior de São Paulo, é reconhecida mundialmente como local de desenvolvimento de tecnologia para o espaço”.
O Brasil tem cerca de cem indústrias que trabalham com tecnologia espacial e São José dos Campos foi a cidade do mundo que mais recebeu investimentos externos para o desenvolvimento deste tipo de inovação. Os dados foram revelados pelo documento FDI Aerospace Cities of the Future 2018/19, produzido pelo Financial Times.
O bilionário Elon Musk – que promete aportar em Marte com sua empresa, Space X, daqui a seis anos – é um dos principais garotos propaganda de uma iniciativa nova: a entrada de empresas privadas no mercado, impulsionando a corrida espacial. O mercado foi tradicionalmente dominado por investimentos estatais até meados do século passado, principalmente pelos Estados Unidos e pela ex-União Soviética. Com a proximidade do ano 2000, outras nações e consórcios de países entraram na disputa, como China, Índia, Japão, Europa e o próprio Brasil, além da Rússia e de outras ex- repúblicas soviéticas. O fato de apenas potências mundiais terem monopolizado esse tipo de tecnologia mostra a quantidade de investimentos necessários para o desenvolvimento.
Serviços espaciais
Quando se fala em serviços fornecidos por tecnologias em órbita, o protagonista desta história são os satélites. Hoje, eles são responsáveis por uma gama de serviços utilizados no planeta Terra. GPS, comunicações e meteorologia são alguns dos exemplos que têm como base informações vindas do espaço. A quantidade de satélites em órbita é impressionante: quase 5 mil, segundo a UNOOSA, órgão das Nações Unidas que gerencia o tema. A maioria já deixou de operar – afinal, o primeiro a entrar em órbita, o Sputnik, completaria 61 anos em 2018. São cerca de 2 mil em operação, atualmente.
Os satélites promoveram uma revolução na transmissão de dados e monitoramento planetário. O coordenador geral de operações do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), Marcelo Seluchi, destaca a velocidade com que a equipe tem acesso a informações. “Nós recebemos dados novos a cada 15 minutos sobre a movimentação meteorológica, depois da entrada em órbita de novos satélites. Isso é muito rápido. Há pouco tempo as fotos chegavam a cada três horas”.
O especialista também destaca que os satélites fazem um monitoramento que seria muito complicado de colocar em prática por Terra. Regiões remotas da Amazônia ou do Centro-Oeste são de importância estratégica para mapear possibilidades de desastres. “O monitoramento de toda bacia é importante, para prever alagamentos. Caso chova demais na nascente, pode acontecer um problema três dias depois em área urbana, por exemplo”, relata Seluchi.
Outro ponto relevante dos satélites é a transmissão de dados. Eles captam informações de pluviômetros instalados em diversas localidades do Brasil e transmitem para o Cemaden, localizado em São José dos Campos. O Centro Nacional de Monitoramento verifica a possibilidade de desastres em 958 cidades em todo país, o que representa 90% da população exposta a deslizamentos, alagamentos, entre outros. O Cemaden começou a operar em 2012. À época, morriam cerca de 300 pessoas por ano devido a esses tipos de problemas. Depois da implantação do Centro – que faz as previsões com base em imagens de satélite –, os óbitos caíram mais de 66% (são menos de 100 anualmente).
As previsões utilizadas pelo Cemaden e outros centros de pesquisa pelo mundo vêm de satélites geoestacionários. Esse tipo de objeto pode pesar mais de seis toneladas e fica posicionado a cerca de 36 mil quilômetros da superfície terrestre. Eles têm uma órbita de 24 horas, por isso, ao serem observados da Terra, parecem parados em cima de um ponto – o que no caso da meteorologia permite monitoramento constante de uma área.
Nano satélites
Os custos de construção e lançamento são elevados, segundo o diretor presidente da empresa integradora de sistemas espaciais, Visiona, João Paulo Campos. “Essas estruturas podem custar mais de R$ 100 milhões, sem o custo do lançamento. Os satélites geoestacionários se mantêm em serviço por aproximadamente 15 anos”. O satélite lançado pelo Brasil em 2017 custou R$ 2,1 bilhões — incluindo os custos com infraestrutura terrestre, lançamento e operação.
A Visiona está desenvolvendo um projeto de nano satélite ao custo de R$ 14 milhões. “Ele tem aproximadamente dez quilos e vai operar durante três anos. Terá três funções básicas. Vai captar imagens para ajudar alguns setores como o da agricultura, e também irá fretar dados de estações meteorológicas e permitir a validação de uma série de sistemas que desenvolvemos para o espaço”, explica Campos. Os chamados nano satélites orbitam mais próximo à Terra, entre 500 e 800 quilômetros. Eles têm produção mais barata e permitem testar tecnologias que serão instaladas nos grandes satélites.
O especialista da ABDI, Cassio Rabello, estima que a proliferação dos nano satélites pode estimular a indústria. “Será mais barato produzir, logo, mais empresas podem entrar neste mercado. Apesar de o Brasil ter relativamente poucas empresas que lidam com o tema, temos um corpo técnico especializado e universidades de ponta”. Rabello aponta que eventos como o 2º Fórum da Industria Espacial estimulam a geração de negócios e o ecossistema do segmento.
Serviço
27 de novembro
19h30 – 20h30
Abertura oficial do Fórum
Local: Parque Tecnológico São José dos Campos – SP – Auditório 4
28 de novembro
9h – 9h45
Resultados da pesquisa de demandas
9h45 – 11h45
Validação das demandas nacionais ao setor espacial
Sala 1 – Observação da Terra, Coleta de Dados e Meteorologia
Sala 2 – Missões Cientificas, Comunicação e Posicionamento e Navegação
11h30 – 12h30
O novo marco legal da CeT e o setor espacial: quais ferramentas podem ser utilizadas?
Apresentação sobre ferramentas do Novo Marco Legal e como as empresas podem utilizá-las
13h30 – 15h
Cases de Sucesso: a parceria entre instituição de fomento e as empresas do setor espacial
Apresentação de resultados de sucesso entre empresas e instituições de fomento.
15h15 – 16h45
Mesa Redonda: Mercado e tecnologia – de startup a grandes empresa
16h45 – 17h30
PITCH Desafios Espaciais
17h30 – 18h45
Planos, projeto e governança do setor espacial brasileiro
Têm como objetivo apresentar a visão da AEB sobre o futuro do Programa Espacial Brasileiro.
18h45 – 19h
Encerramento