Deu match

Conexão entre startup e indústria gera inovação e crescimento

Quase uma visão de Raio-X. A tecnologia dos óculos de realidade aumentada está indo nessa direção. A StartUp Loox VR, de Curitiba (PR), desenvolveu um óculos para a Votorantim Cimentos. “Ele serve para a manutenção de um equipamento localizado na chaminé, que analisa a quantidade de CO2 emitida pela fábrica de cimento”, explica o sócio-diretor da Loox, Ohmar Tacla. Nas lentes dos óculos há um conteúdo holográfico que disponibiliza uma série de informações sobre o equipamento. “Nós criamos um sistema que identifica quando foi realizada a manutenção de cada filtro e quem fez o trabalho. Também é possível um contato remoto, caso a pessoa tenho dificuldade na operação”, destaca.

Startup
Considera-se uma organização projetada para buscar um produto, serviço, modelo de negócio escalável, repetível em condições de extrema incerteza.
Match
É o nome dado quando a startup consegue desenvolver e vender uma solução para a indústria.

Essa tecnologia pretende evitar que a fábrica pare semanalmente para a manutenção do equipamento. O consultor de soluções em tecnologia da Votorantim, Alexandre Mosquim, explica que a fábrica perde muito em produtividade cada vez que precisa paralisar os trabalhos. “Atualmente, esse é um problema. Com a implementação dos óculos e outros sensores que serão instalados, poderemos analisar a saúde de todo o sistema. O ganho em produtividade ainda vai ser calculado, mas com certeza será importante”, explica Mosquim. Já a Loox tem as conta na ponta da língua. O contrato com a Votorantim vai representar um crescimento de 30% para a empresa incipiente.

A Votorantim e a Loox se encontraram por meio de um programa que interliga e busca o match entre indústrias e startups. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) é o cupido nessa história. Em 2017, a ABDI criou o programa Conexão Startup Indústria. “Vimos no mundo inteiro que as empresas estavam evoluindo em produtividade e na redução de custos com tecnologia desenvolvida por startups. No Brasil não é diferente, mas a indústria nacional estava comprando soluções criadas por iniciativas de fora”, explica o presidente da Agência, Guto Ferreira. “A questão é mostrar que aqui também temos startups desenvolvendo as mesmas ideias”.

Resistência

Ferreira explica que o desafio foi grande porque existia resistência dos dois lados. “Se a startup batesse na porta da indústria, ela não abriria porque a indústria sempre viu a startup como um bando de jovens que cria aplicativos. Com a ABDI fazendo a intermediação, tem um respaldo técnico. Nós falamos e a indústria abre as portas. Nós sabemos que eles terão qualidade”. Os donos de startups atestam essa realidade. O diretor da Loox, Ohmar Tacla, relata que atualmente tem contrato com pelo menos 20 multinacionais, mas o contato direto com diretores ou presidente ocorre apenas na relação com duas empresas. “Nós somos os terceirizados dos terceirizados. Isso dificulta o trabalho, porque a ideia do cliente vai se perdendo ao longo da cadeia. A startup tem experiência que poderia ser melhor aproveitada se trabalhasse diretamente com o cliente final”.

A integração não é uma vontade apenas das startups, as indústrias também têm esse intuito. O consultor de soluções em tecnologia da Votorantim, Alexandre Mosquim, explica que a empresa já buscava soluções em startups. “A Votorantim já comprou startups, mas o programa foi uma surpresa interessante. A ABDI fez um esforço gigante para atender nossa demanda”.

O programa

No primeiro edital do Programa Nacional Conexão Startup Indústria foram selecionadas 10 indústrias e 27 startups, de um total de quase 400 empresas inscritas. Primeiramente consiste à indústria analisar as competências técnicas de cada startup que tem potencial de resolver o seu problema. Depois da análise prévia, as startups escolhidas são premiadas pelo programa – R$ 80 mil da ABDI – e começam a desenvolver, juntamente com a indústria, uma solução. Esta fase, onde é verificada a viabilidade técnica, é chamada de prova conceito.

O próximo passo é fazer um piloto – onde a startup entrega um lote de testes do produto. A elaboração da solução, como todo o processo, é feita em parceria com a indústria e demora em média 9 meses. Chegando nesta etapa, a startup ganha outro prêmio de R$200 mil. Mas o preço da venda da solução para a indústria depende das negociações diretas com a startup. Se estabelece uma relação de mercado na qual a Agência não interfere.

A escolha das soluções é feita, também, pela própria indústria, como explica o presidente da ABDI, Guto Ferreira. “Para um programa como esse funcionar, você não pode indicar para as empresas quem elas devem contratar. Tem, por exemplo, uma startup que trabalha com eficiência energética, e essa solução pode servir para várias indústrias. A gente coloca elas frente a frente e deixa esse match acontecer naturalmente”.

Em três anos a iniciativa vai investir R$ 50 milhões, sempre com a abertura de editais. A próximo seleção pública será ainda em 2018.