A Copa do Mundo da Rússia 2018 vai ficar marcada pelo uso intensivo da tecnologia como aliada dos atletas e dos espectadores. O jogo França 2 x 1 Austrália entrou para a história dos Mundiais como o primeiro com interferência do árbitro de vídeo (VAR, na sigla em inglês). O confronto inaugurou ainda a Tecnologia da Linha do Gol (TLG) nesta edição do torneio, recurso que foi implementado na Copa do Mundo no Brasil em 2014.
Esses são apenas dois exemplos mais recentes e de maior repercussão do uso da tecnologia no esporte. No entanto, desde as bolas, passando pelos uniformes, até as chuteiras, para ficar apenas no âmbito do futebol, as empresas investem em inovações para aumentar a performance dos atletas. A Telstar 18, bola oficial da Copa do Mundo, e a Telstar Mechta, a versão para as fases eliminatórias do torneio na Rússia, têm um chip integrado que transmite dados por aproximação. O sistema também permite que os consumidores interajam com a bola da Adidas por meio de aparelho celular, fornecendo a localização e os detalhes específicos de cada produto. O chip ainda dá acesso a concursos de habilidade para os compradores. Inclusive, alguns destes desafios serão feitos durante o mata-mata entre as seleções.
A camisa que a seleção brasileira de futebol utiliza na Copa do Mundo é outro caso de emprego da tecnologia no esporte. A “amarelinha” produzida pela Nike traz menos fios que os modelos anteriores, ficando mais leve e menos aderente. A tecnologia Dri-Fit permite maior circulação de ar pela textura costurada, com uma linha fina espaçada na parte interna da camisa. As mangas têm pequenas ranhuras em relevo que refletem a luz e contribuem para aumentar a velocidade e a agilidade dos jogadores. Os shorts, com 55% mais de tecido strech, têm mais flexibilidade.
No caso das chuteiras, as tecnologias usadas nos calçados incluem sistema de absorção de impactos no solado, para proteger os atletas de desgastes nas articulações e ligamentos, caneletas posicionadas estrategicamente para flexão dos pés e lâminas de borracha para dar maior aderência ao piso.
Competitividade
“A Copa do Mundo tradicionalmente traz oportunidades para a indústria e para o varejo. A cada edição do torneio fica evidente também a evolução tecnológica, servindo como aliada dos atletas e dos consumidores. Estamos trabalhando para o Brasil aumentar seu protagonismo fora do campo, agregando valor e vantagem competitiva à indústria no cenário global. Queremos ser campeões em competitividade” avalia o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Guto Ferreira.
Uma das maiores fabricantes de material esportivo do Brasil conta com um departamento de pesquisa e desenvolvimento responsável pelas coleções, pelo mapeamento de tendências, de inovações, materiais e fornecedores. Para as bolas, as principais tecnologias são as que deixam o produto 100% esférico, sem costura, com menor absorção de água, alta resistência e maciez.
“Temos o selo Fifa Quality Pro, atribuído à bola S11 Campo Pró, que conta com tecnologia inspirada na bola de golfe e que traz à superfície cavidades produzidas a partir de um laminado especial, reduzindo a resistência ao ar. É uma tecnologia desenvolvida no início dos anos 2000 e que foi testada nos tubos de voo da Embraer. O resultado é uma bola mais precisa, que não flutua e mantém a trajetória original”, detalha Guilherme Ken, gerente de produto e marketing da Penalty.
A indústria de material esportivo é uma das que vem se beneficiando da aplicação de nanotecnologia nos produtos. As camisas esportivas, por exemplo, já utilizam nanoparticulas de prata para evitar odores. “A nanotecnologia é uma oportunidade de inovação para a indústria e pode renovar setores tradicionais. Mas, é fundamental que haja maior interação entre academia, setor industrial e investidores”, afirmou Cleila Pimenta, especialista em nanotecnologia da ABDI.
A Penalty veste a camisa da seleção brasileira de futsal e emprega uma combinação de fios na forma de fibra orgânica. “Essa modelagem possibilita melhor caimento, respiração e maior agilidade aos jogadores. Nossos produtos de confecção também contam com outras tecnologias, como proteção UV, tecnologia Dry One, de secagem rápida, e Nano Fresh, que oferece tratamento antiodor”, explica Guilherme.
Se estas são tecnologias usadas há algum tempo, combinadas ao avanço da medicina, nutrição, fisioterapia e fisiologia no esporte, outras têm sido incorporadas para garantir a aplicação correta das regras. O futebol, uma das modalidades mais resistentes à adoção de tecnologia para a arbitragem, inaugurou o VAR na Copa do Mundo da Rússia, além de manter a Tecnologia da Linha do Gol, já usada no Brasil em 2014.
VAR
Quando o craque francês Antoine Griezmann recebeu lançamento em profundidade e invadiu livre a área adversária, pronto para chutar para o gol, o lateral Risdon deu um carrinho e a bola ficou com o goleiro australiano. O lance seguiu até que o juiz uruguaio Andrés Cunha foi avisado pelo árbitro de vídeo sobre a possiblidade da infração do atleta da Austrália. A partida foi interrompida e o árbitro de campo voltou atrás em sua decisão após ver o lance na TV. Pênalti anotado e gol de Griezmann.
A International Football Association Board (IFAB), entidade que cuida das regras do futebol, aprovou o uso do VAR com o objetivo de evitar erros graves, situações claras que fogem aos olhos dos árbitros e assistentes em campo e que são capitais na definição de uma partida, como lances de impedimento, pênalti e cartão vermelho, além de erros na identificação de jogadores.
Para a Copa do Mundo da Rússia, foram montadas duas salas no Centro Internacional de Transmissão (IBC, na sigla em inglês), em Moscou, que são usadas pelas equipes do VAR. As imagens dos 12 estádios chegam via fibra óptica para o IBC. Cada equipe conta com oito pessoas: o Árbitro Assistente de Vídeo principal e seus três assistentes, além de quatro técnicos de operação dos equipamentos.
TLG
Outro tipo de lance passou a ser resolvido com a tecnologia. O jogador chutou, a bola bateu no travessão e quicou no gramado rente à linha do gol. A bola entrou ou não? Uma situação assim decidiu a vitória da Inglaterra por 4×2 sobre a Alemanha na final Copa do Mundo de 1966. O terceiro gol inglês, já na prorrogação, até hoje gera dúvidas nos torcedores, mas o tento foi validado pelo árbitro. Para evitar discussões do tipo, a Fifa utilizou a Tecnologia da Linha do Gol pela primeira vez na Copa do Mundo no Brasil em 2014.
Hoje em dia, os jogadores conseguem, em um chute, fazer a bola alcançar até 120 km/h, o que torna muito difícil para o olho humano captar o lance. O sistema utilizado pela Fifa dispõe de 14 câmeras de alta velocidade ao redor do gramado e permite detectar se a bola ultrapassou totalmente a linha. Se tiver sido gol, o sistema envia um sinal para o relógio no pulso do árbitro, que confirma o tento.
A tecnologia, que cada vez mais tem permeado a vida das pessoas, também invade o esporte de maneira definitiva, principalmente o alto rendimento, em que cada milésimo ou milímetro define a vitória. Um campo de oportunidades que se abre para as empresas investirem e obterem retornos cada vez maiores. Atletas, consumidores e a indústria, todos saem vencedores.
A rota tecnológica na Copa do Mundo: