A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) divulgou o resultado do processo de seleção da segunda etapa do Edital Mulher Empreendedora ASG. As 10 propostas escolhidas irão apoiar soluções inovadoras, com foco no meio ambiente, questões sociais e melhorias na governança de empresas.
A sigla que representa o tripé ambiental, social e governança é um conjunto de boas práticas para as empresas e governos incorporarem em sua estrutura interna a fim de promoverem mudanças em suas organizações e na sociedade. “Apesar da pauta ASG já fazer parte do portfólio da ABDI tanto em projetos como em ações e iniciativas internas, como valorização humana, diversidade de gênero, raça e boas práticas de governança, esse é um tema que está sempre se atualizando. Por isso, com esse edital, queremos avançar na agenda ASG, estimulando a adoção de tecnologias, a difusão tecnológica e a adoção de modelos de negócios mais competitivos”, esclarece a gerente de Projetos Especiais da ABDI, Cynthia Mattos.
A mulher é uma importante potência para a economia do país. Elas representam cerca de metade da população mundial e 39% do emprego global. Porém, somente 4,7% das empresas brasileiras são lideradas por mulheres. Dados do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) mostram que mais de 40% das empreendedoras sustentam suas famílias com o dinheiro do negócio. Quando elas contratam, dão prioridade à contratação de outras mulheres e quando os negócios dão certo, elas investem em melhorar a educação dos filhos, o bem-estar da família e a comunidade onde vivem.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), apontou em 2018, que somente 9,3 milhões de mulheres estão à frente de negócios. Apesar dos níveis maiores de escolaridade, elas têm menos representação geral em cargos gerenciais (37,4%) e recebem cerca de 77% do salário médio dos homens. “A ressignificação das mulheres na sociedade é uma forma de promover a recuperação sustentável e inclusiva da economia”, ressalta o Analista de Produtividade e Inovação da ABDI, Jackson De Toni.
Sobre o Programa
A ABDI recebeu 182 inscrições para o Edital Mulher Empreendedora ASG e o edital teve mais de 21 mil visitas na fase inicial. Para participar do concurso, as empresas, cooperativas e associações (com ou sem fins lucrativos) tinham que ter ao menos uma mulher em cargo de gestão. Além disso, no caso das empresas, o capital social precisava ter no mínimo 30% de participação de mulheres. No caso das cooperativas, a proposta precisava ser executada com autonomia pelos cooperados, de modo a não demandar relação de subordinação entre a cooperativa e os cooperados e ter no mínimo 30% de associadas mulheres, assim como as associações.
A premiação total é de R$ 1,5 milhão, ou seja, R$ 150 mil para cada projeto. Até o final de agosto a previsão é de que todos os selecionados deverão assinar o contrato com a ABDI e terão até janeiro de 2023 para apresentarem os resultados, que poderão ser escalados e disseminados.
Conheça os projetos selecionados nas áreas de Responsabilidade Ambiental, Governança e Social:
Responsabilidade Ambiental
1 – MTH – Reboard “da Moda para a Moda”
O projeto transforma retalhos e sobras de tecidos da indústria de vestuário em uma nova matéria-prima – uma fibra sólida que pode ser usada na produção de acessórios como anéis, pulseiras e armações de óculos, e de objetos de design como porta-copos, bancos e mesas. Baseado no conceito upcycling, processo que transforma resíduos ou peças já sem utilização em novos materiais ou produtos, o projeto pretende reduzir o problema do lixo têxtil, criando uma nova matéria-prima de valor agregado, uma nova cadeia produtiva, com geração de emprego e renda, e ainda contribuir para a preservação do meio ambiente.
2 – Ver o Fruto – Bioeconomia circular na Amazônia Brasileira: o uso da semente residual do açaí para o desenvolvimento de comunidades da Amazônia a partir das práticas ASG
O projeto pretende construir estações de tratamento de água, capazes de transformar a água do rio em água própria para o consumo humano, utilizando como meio filtrante a semente de açaí descartada no processo de retirada da polpa para consumo. O projeto vai contribuir para a destinação adequada das sementes do açaí, minimizando os impactos negativos ao meio ambiente e trabalhando a bioeconomia circular. Também vai diminuir os gastos públicos tanto com limpeza urbana quanto com saúde pública, por auxiliar na redução de ambientes favoráveis para a proliferação de insetos transmissores de doenças, além de diminuir a poluição visual, do solo e hídrica.
3 – Moomoo – Por um mundo melhor – Projeto de design a partir da “pele do peixe”
O projeto usa a pele do peixe, descartada na limpeza para o consumo, como insumo nas áreas têxtil, de decoração e de adornos e acessórios. Dessa forma, gera incremento econômico e novos ativos de desenvolvimento a partir da inovação e fortalecimento de um ecossistema circular. O projeto vai desenvolver um plano de capacitação focado em inovação, criação, técnicas e procedimentos de produção, promoção e venda dos produtos criados com a pele do peixe.
4 – Recanto Agroecológica M&A Terra – “AGRO APIS: DAS FLORES PARA MESA, ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO”
Este projeto pretende ampliar os produtos agroecológicos passíveis de serem comercializados por meio digital e por venda direta ao público através da integração da apicultura com o Sistema Agroflorestal Agroecológico (SAFAS). Também quer alertar a sociedade para a importância do consumo consciente e incentivar modelos mais sustentáveis de agricultura. Com a implantação da unidade demonstrativa de agrofloresta agroecológica apícola será possível mostrar as possibilidades de renda para famílias no setor apícola, com diversos produtos comercializáveis e valorizados tanto no Brasil quanto no exterior.
Governança
5 – Rita de Cássia Monteiro Marzullo ME – “Desenvolvimento Industrial no Brasil rumo à Economia Circular” – Plataforma Digital do Ciclo de Vida (PDCV)
O projeto consiste na criação e modelagem da arquitetura científica de mensuração de aspectos ambientais e sociais de cada indústria, baseada em inventários “gate-to-gate” com a perspectiva de Ciclo de Vida. Esta arquitetura será a base para o desenvolvimento de uma Plataforma Digital de Ciclo de Vida (PDCV) em blockchain. A PDCV será totalmente autodidata e digital, possibilitando que cada indústria seja capaz de elaborar e agregar na plataforma o seu próprio inventário, que pode incluir dados de entrada (recursos naturais, materiais e recursos energéticos) e dados de saída (produtos, emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos). A PDCV será uma ferramenta para a análise da sustentabilidade de produtos, usada para avaliação das dimensões ambiental e social.
6 – Grafnano Pesquisa e Consultoria LTDA – Plataforma NANOS: Gestão de Risco em NANOMATERIAIS
A Plataforma NANOS é uma solução digital que viabilizará a análise dos riscos dos processos de produção e incorporação de nanomateriais e/ou nanoformas para empresas e institutos que manipulam ou produzem nanomateriais. Devido a especificidade da área, a complexidade em se compreender as relações entre as propriedades físico-químicas dos nano, com sua toxicidade, dificulta a harmonização de dados e limita avanços nas regulamentações da área. Pretende-se que a plataforma seja um repositório contendo documentos, normas e guias das melhores práticas e recomendações internacionais da área de nanosegurança. A intenção é facilitar a comunicação e o conhecimento dos riscos, para seguir na direção de processos mais seguros e sustentáveis.
Social
7 – Instituto Inovar e Incluir – Implementação da Lysa Cão Guia Robô
A Lysa é uma inovação tecnológica sofisticada, que possui GPS, câmeras que identificam objetos e falam com o usuário e malha de sensores que desvia de obstáculos. O robô pode mapear ambientes e auxiliar a pessoa com deficiência visual ou dificuldade de locomoção a se deslocar em ambientes atípicos apenas falando o local aonde quer ir. Ele identifica os objetos no caminho pelo reconhecimento de imagens e desvia, durante o percurso, de todos os obstáculos passíveis de gerarem acidentes. Tem tempo de vida ilimitado e baterias que duram cerca de oito horas.
8 – Toti Diversidade – Incluindo mulheres na Tecnologia
Este projeto pretende solucionar dois problemas: as barreiras de inclusão laboral e social de pessoas refugiadas, principalmente mulheres, no mercado de trabalho qualificado e a dificuldade das empresas de tecnologia de diferentes setores e portes para contratar bons profissionais de desenvolvimento. Para tanto, vai realizar a formação profissionalizante (técnica e comportamental) em Programação Web Full-Stack para 50 mulheres refugiadas. Essa formação pode gerar aumento de renda de, no mínimo, 150% para as profissionais contratadas através do Programa de Carreira.
9 – Fofuuu – Painel de avaliação clínica sobre evolução de habilidades de crianças com atraso no desenvolvimento
O projeto vai trabalhar com aplicativos para a terapia de crianças com atrasos nas habilidades do desenvolvimento, sejam motoras, de linguagem, cognitivas ou sociais, que afetam mais de 5 milhões de crianças no Brasil. O objetivo é implementar um painel web para gestão e análise da evolução de crianças em terapias infantis baseado nos dados gerados pelos aplicativos de atividades terapêuticas já existentes. Os aplicativos irão realizar a coleta de dados sobre as interações dos pacientes para os conteúdos apresentados, enviados para uma API de coleta de dados da plataforma. Os dados são armazenados em um banco de dados e ficam disponíveis por uma API para visualização via painel web.
10 – APAE Valente – “Cuidando de quem cuida” Núcleo Produtivo em Tecidos – Moda e Sustentabilidade
O projeto vai capacitar as mães de Pessoas com Deficiência Intelectual (PCDIs) atendidas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em Valente (BA), para a criação e comercialização de uma linha de produtos inéditos e diferenciados. Entre as atividades, está prevista a realização de uma oficina continuada de moda e sustentabilidade, cinco encontros para o desenvolvimento do empreendedorismo feminino e uma Feira de Moda e Empreendedorismo. A capacitação, além de oferecer conhecimentos, métodos e técnicas de transformação de materiais recicláveis em produtos de alto valor agregado, vai contribuir para a formação pessoal e profissional das mulheres, proporcionando geração de renda, aumento da autoestima, confiança na capacidade de desenvolvimento e a promoção do espírito empreendedor.