O “novo normal” imposto pela COVID-19 de forma global impacta a economia, o trabalho e os hábitos de comportamento da sociedade, que devem assumir novos padrões. A mobilidade urbana vinha passando por uma transformação gradual. Com a pandemia, as mudanças deverão ser aceleradas, mas vão requerer ampla reflexão sobre o novo início a partir do esperado ‘vai passar’.
A eletromobilidade e a universalização dos carros elétricos no Brasil foi o tema de webinar que contou com a presença do presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Igor Calvet, além de Jens Giersdorf, Diretor de projeto – GIZ – Cooperação Alemã, Sergio de Oliveira Jacobsen, CEO – Operating Company Smart Infrastructure – Siemens Brasil e a diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP), Clarisse Cunha Linke.
Realizado na plataforma Connected Smart Cities & Mobility, iniciativas da Necta, o evento teve duração de duas horas e foi uma oportunidade para debater o que vem sendo feito no Brasil e no mundo em relação à mobilidade e à adoção de carros elétricos, e as perspectivas para o novo normal pós coronavírus. O evento contou com apoio institucional da ABDI.
A realidade é que, assim como em muitos outros setores, a pandemia impactou o setor de mobilidade elétrica e, de certa forma adiou os projetos e programas que já vinham sendo discutidos e que estavam em andamento. No cenário atual, a retomada do transporte público eletrificado pós Covid-19, por exemplo, não deverá ser robusta, na avaliação dos participantes. Eles destacaram que na China, um mês após a retomada das atividades, apenas um quarto do número de passageiros havia retornado ao transporte público.
Segundo o presidente da ABDI, a mobilidade tende a ser um tema mais importante nesse período de crise, mas o debate da eletromobilidade pode demorar mais um pouco. “As pessoas vão querer se movimentar com cada vez mais segurança e qualidade”, disse, acrescentando que a indústria terá que responder a esse movimento. “E o enfrentamento dessa questão vai se dar por meio de inovação e tecnologia. Por outro lado, a discussão sobre a eletrificação tende a demorar mais um pouco”, disse.
“A gente teve uma redução drástica de deslocamento com o isolamento social. Novas formas de interação têm mostrado que o deslocamento não é sempre necessário. Estamos discutindo como manter essa redução e aumentar o uso de veículos leves como a bicicleta. "Precisamos, sim, de transportes sustentáveis”, avaliou Jens Giersdorf. “Não dá para saber exatamente como será. Agora, os problemas que a pandemia traz para o transporte coletivo poderão dificultar a implementação do transporte coletivo elétrico por algum prazo”, disse.
Para Sergio Jacobsen, a redução no uso de transporte público já estava acontecendo. “Mas a Covid-19 acelerou isso. Grande parte das pessoas não deve voltar a trabalhar em escritório, o home office está funcionando. O número de viagens de negócios deve diminuir. As pessoas se acostumaram a comprar perto de casa ou pela internet. Os modelos antigos devem ser repensados. Teremos outros motivadores para mobilidade elétrica”, afirmou.
De acordo com Igor, o movimento em prol dos veículos elétricos é novo. Todos os países estão aprendendo ao mesmo tempo o que fazer e o que não fazer. “Todos os países enfrentam talvez os mesmos obstáculos: custo, autonomia, tempo de recarga, infraestrutura de recarga e, por fim, assimetria de informação do consumidor” disse. Segundo ele, o governo trabalha com a infraestrutura de recarga, com novos modelos de negócios públicos e privados, a fim de incentivar esse setor.
A ABDI possui, em parceria com o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), o programa de compartilhamento de veículos elétricos para uso de governos. O programa foi adotado pelo Governo do Distrito Federal, que, atualmente tem 14 veículos elétricos (de um total de 16 previstos) para atendimento da sua frota pública. A iniciativa conta ainda com 35 eletropostos. A ABDI também assinou memorando de entendimento com o Governo do Estado do Paraná para implantar lá o mesmo programa.
“Precisamos envolver governo e setor privado e pensar em como fazer todas as peças funcionarem ao mesmo tempo: sustentabilidade, eficiência e economia”, disse Igor Calvet, no evento online.