A introdução de tecnologia nano em uma indústria de cosméticos garantiu um aumento de 30% nas vendas. A Martins Brasil, de Lauro de Freitas (BA), desenvolveu um kit de limpeza facial para pele negra com auxílio de nanopartículas. O produto começou a ser vendido há cerca de um ano, e na composição foram utilizados fragmentos de cúrcuma e rosa mosqueta.
A supervisora de vendas da empresa, Ana Cristina Santana, explica que o produto vende mais que a linha anterior, na qual a nanotecnologia não havia sido implementada. “O novo kit tem um preço 68% superior, mas pela efetividade e celeridade de resposta, a clientela tem preferido”, destaca. A pequena indústria, de 10 funcionários, não produz as nanopartículas, ela compra o insumo pronto e adiciona aos outros elementos que compõem o cosmético.
A aquisição da tecnologia foi um pouco mais onerosa para a indústria, entretanto, o investimento compensa. “Nos tornamos mais competitivos frente às outras marcas, porque temos um produto com efeito diferenciado”, relata Santana. Ela ainda explica que a necessidade de compra dos insumos em grandes quantidades ainda dificulta que o preço seja mais competitivo. “Como somos uma indústria pequena, não temos uma capacidade de produção grande, então seria interessante comprar os insumos nanotecnológicos em menor quantidade, mas não existe essa opção. Então acabamos desembolsando um grande volume de recursos de uma vez, e vamos utilizar o produto ao longo do ano”, explica. Muitas vezes, a fábrica acaba jogando uma parte dos insumos fora.
A especialista em nanotecnologia da ABDI, Cleila Pimenta, defende que, com o aumento de empresas que trabalham com nanotecnologia, os preços no Brasil devam cair. “Temos cerca de mil empresas que lidam com nanotecnologia hoje no país. Sendo que a maioria, 85%, é apenas utilizadora de nano. Apenas 15% desenvolvem nanotecnologia”, explica. A nanotecnologia já é produzida em 56 países, e são mais de oito mil produtos com algum fragmento dela.
O coordenador de Inovação do Ministério de Ciência, Tecnologia, Informações e Comunicações, Leandro Berti, que é pós-graduado no tema, aponta que a nano já alcançou maturidade no mundo. “Muitas coisas do nosso dia a dia têm componentes nano, e esse mercado deve alcançar uma movimentação financeira de U$5 trilhões até 2020. O Brasil não pode deixar de lado essa expertise, do contrário corre o risco de ficar refém da inteligência gerada em outros países”. Berti também cita diversos ramos nos quais é aplicada a nano: produtos de limpeza, vestuário, calçados, agricultura… A ideia básica é que, ao miniaturizar os componentes dos produtos, se diminui a quantidade de matéria-prima utilizada e, também, em muitos casos, aumenta-se a eficiência.
Outra empresa baiana que apostou na técnica para crescer é a Dortech, que desenvolve painéis de energia solar. A fabricação de placas de energia é composta de três tipos de nanopartículas: metálicas, semicondutoras e magnéticas. Segundo o diretor de inovação da startup, Anderson Lima, a introdução desses componentes aumenta a eficiência no momento da captação de energia. “Nas nanopartículas magnéticas, por exemplo, nós incluímos propriedades que antes não estavam presentes, melhorando a interação com a luz, gerando mais energia através dos dispositivos fotovoltaicos”.