Atuar para que a inovação incremental na indústria farmacêutica seja estimulada no país é o objetivo da aproximação entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e o Grupo Farma Brasil. Para aprofundar a interlocução entre governo, empresas e o meio científico a ABDI realizou com o GFB o evento “Inovação que transforma – Como desenvolver um ecossistema de inovação avançada?”, nesta segunda-feira (02), no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília (DF).
A ABDI vai incentivar a discussão sobre a resolução número dois da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), instância interministerial coordenada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e que dentre outras atribuições, tem a responsabilidade de estabelecer limites de preços, estimular a concorrência, monitorar os descontos de compras públicas e aplicar penalidades.
“A aproximação com o setor farmacêutico é um passo importante para estimular a inovação no país. Trata-se de um ecossistema propício para o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias e que precisa ser mais estimulado para continuarmos sendo uma referência neste mercado”, analisou Igor Calvet, presidente da ABDI.
O presidente executivo do Grupo Farma Brasil, Reginaldo Arcuri, defende que as regras de precificação de medicamentos sejam capazes de incentivar a inovação. “Mais de 50% dos medicamentos produzidos no país, são produzidos por indústrias brasileiras e temos enorme capacidade de continuar inovando”, apontou. “Mas, a questão da advocacy é fundamental para o setor privado, porque você conseguir que as decisões sejam, não somente tomadas, mas implementadas pelo governo depende de alguma instituição focada em fazer com que isso aconteça. Em segundo lugar, a questão da inovação é algo que precisa ter dedicação, empenho e soluções concretas”, defendeu Arcuri.
O mercado farmacêutico no Brasil está entre os dez maiores do mundo, chegou a 16,11 bilhões de dólares em 2018, segundo dados da Abifarma, Sindusfarma, Febrafarma e IMS Health. Em 2005, a movimentação foi metade deste montante, o que revela um grande crescimento no período. No entanto, o presidente do conselho do Grupo Farma Brasil, Dante Alário, destaca que é necessário inovar para que a indústria sobreviva. “Temos velocidade e qualidade, mas ainda precisamos de condições. E uma delas é a questão regulatória. O ambiente precisa ser mais amigável para os investimentos em inovação”.
Este ambiente menos burocrático também é uma das condições apontadas pelos pesquisadores para que a inovação aumente, como ressalta Fernanda de Negri do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pós-doutora em economia. “Precisamos de pessoas qualificadas, pesquisadores, cientistas produzindo conhecimento. Precisamos de infraestrutura, laboratórios, universidades para que esses profissionais possam trabalhar e produzir conhecimento. E precisamos de um ambiente econômico que favoreça a inovação, menos burocrático, mais aberto e competitivo”.
A cientista compara os investimentos brasileiros em Pesquisa e Desenvolvimento com os feitos pelos Estados Unidos. “Em comparação aos EUA, onde 20% do P&D governamental é feito na saúde, no Brasil a gente não sabe dizer o valor que investimos em P&D, não temos essa quantificação. É claro que é difícil comparar, porque estamos falando do país mais rico do mundo, mas eles investem 30 bilhões de dólares ao ano em pesquisa, somente em saúde”. Os pesquisadores apontam que as novas tecnologias são uma alternativa para diminuir os custos em saúde, o que pode disponibilizar mais recursos para pesquisa.