Estudantes de escola pública apresentam robô para competição nos EUA

Estudantes de escola pública apresentam robô para competição nos EUA

Equipe Brazilian Storm vai representar o país na First Robotics Competition

Construir robôs parecia um desafio possível apenas em filmes de ficção científica, ou em laboratórios de países com tecnologia de vanguarda. O engenheiro mecânico Leonardo Rosa não via desta forma, ainda mais depois de conhecer a First Robotics Competition (FRC), campeonato de robótica nos Estados Unidos que reúne cerca de 4,8 mil equipes de várias partes do mundo. Há três anos, ele e o amigo Arthur de Oliveira, mecânico montador de sistemas da Embraer, decidiram montar um projeto na escola estadual Alceu Maynard Araújo, em São José dos Campos (SP).

De forma voluntária, eles passaram a ensinar robótica aos estudantes de diversas unidades escolares da cidade. Durante as férias e nos fins de semana a sala de aula é na oficina montada no colégio público. “A gente precisa criar oportunidades para melhorar o país. Os jovens são motivados, inteligentes e precisam deste auxílio”, explica Leonardo Rosa, que foi aluno no Alceu Maynard Araújo.

A equipe batizada de Brazilian Storm vai para o terceiro ano consecutivo de FRC. Na primeira participação, em 2017, chegou à final da etapa regional do Sul da Flórida, em West Palm Beach, e foi premiada como melhor equipe novata, o que deu vaga para a etapa mundial em Houston, no Texas. No ano seguinte, mais um prêmio, o Woodie Flowers Award, pelo trabalho de mentoria do time.

Agora, dez estudantes e três mentores irão viajar para as etapas regionais em Little Rock, no Arkansas, e em Huntsville, no Alabama, em março. Na bagagem, o robô que já está embalado e lacrado. “O Brazilian Storm nos dá a oportunidade de aprender como aplicar a robótica”, elogia Diego Rocha, 15 anos e estudante do ensino médio técnico, que vai para a sua segunda participação nos EUA.

Diego apresenta seu brinquedo favorito. (Foto: Gabriel Fialho/ ABDI)

A cada ano são abertas novas inscrições para o projeto, mas quem tem interesse e não se formou ainda, pode continuar no time. “É importante porque os que estavam no projeto ajudam os que estão chegando, transmitindo conhecimento e auxiliando na mentoria”, ressalta Leonardo Rosa.

Em 2017, Diego Rocha já fazia projetos de iniciação científica com uma professora, tendo exposto um trabalho na Universidade de São Paulo (USP), e decidiu conhecer o projeto de robótica: “fui de xereta mesmo, me apaixonei e estou até hoje”.

Apoio

A First Robotics Competition reúne jovens entre 14 e 18 anos que precisam construir e programar robôs para superar desafios e executar tarefas, enfrentando competidores em uma arena especialmente adaptada para a disputa. “São times de muitos países, então a troca cultural deve ser muito grande”, projeta Willian Danko, que cursa automação.

Em 2019, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) patrocina a equipe que viaja para os EUA. Uma das principais dificuldades em estar no campeonato é captar recursos para a inscrição. Para os times novatos, por exemplo, a taxa é de seis mil dólares. Há ainda os custos com passagem alimentação, hospedagem e deslocamento.

“O apoio da ABDI é simbólico, pois sinaliza para vocês, para as empresas, para o mercado, para outros órgãos de governo que é necessário apoiar este tipo de iniciativa. O que já existe aqui é de grande valor e torço para que se multiplique e que passe por aqui outros talentos”, destaca Valdênio Araújo, analista da Coordenação de Indústria 4.0 da Agência.

Nas duas primeiras participações do Brazilian Storm, patrocinadores assumiram os custos das inscrições e as despesas com a viagem foram cobertas arrecadando dinheiro em ações sociais e doações.

Novos Horizontes

A participação no projeto de robótica ajudou os estudantes a melhorarem o desempenho em outras áreas do aprendizado e a terem um desenvolvimento escolar diferente. Leonardo Rosa se lembra do caso de um aluno cujo pai disse que robótica não era para pessoas como o filho, mas o estudante persistiu para provar que era capaz. Estudou inglês e em quatro meses estava sendo o porta voz da equipe e dando entrevista em um canal de TV nos EUA. Os mentores, então, decidiram pagar um cursinho para o aluno, que passou no vestibular da Unesp.

“A aprendizagem é até um exemplo para os demais, mostra que há possibilidade de melhorar de vida. Eles veem no estudo esta oportunidade e se descobrem nas diversas áreas do conhecimento que o projeto envolve”, explica a coordenadora da escola Cacilda Guska.

É o caso da Isabella Mochizuki, 16 anos, que integra a área de administração e marketing da equipe. “Eu era muito tímida e o projeto me deu uma visão maior da vida. Queria apenas ter um emprego, agora quero fazer faculdade e na área tecnológica”, afirma a aluna do segundo ano do ensino médio.

Danielle faz últimos ajustes em protótipo do robô de competição. (Foto: Gabriel Fialho/ ABDI)

“É muito difícil expressar o quanto transforma a nossa vida. É visível a quantidade de alunos que conseguiram emprego e que passaram na universidade. A gente sai com a visão de que é possível transformar o mundo fazendo o que a gente gosta”, concorda Danielle Araújo, que cursa ensino técnico no Sesi de São José dos Campos.

O sucesso da iniciativa levou à criação da Associação Joseense para Apoio a Pesquisa e Ensino em Tecnologia (Ajapet), em 2018. Hoje o projeto se estende a oito escolas de São José dos Campos, Jacareí, Monteiro Lobato e Taubaté, todas na mesma região do interior paulista. Ao todo, 27 estudantes integram o projeto e dez, escolhidos por votação entre eles, irão para os EUA. São dois de administração e marketing, quatro de programação e eletrônica e outros quatro de mecânica.

Quem não vai viajar, como é o caso da Isabella, promete acompanhar e torcer. “Estamos marcando na casa da Margarete Iamamoto (ex-coordenadora da escola) para ver a competição. Quando você gosta, não mede esforços e eu gostei muito do time”.