Financiamento direto a startups e melhora do ambiente de negócios é a receita adotada por países europeus para promover a inovação. O painel “Inovação no Mundo”, ocorrido durante o 2º Fórum de Inovação Startup Indústria, mostrou como Alemanha, Portugal e Reino Unido estão trabalhando o desenvolvimento tecnológico. A Alemanha e o Reino Unido, por exemplo, estão entre as cinco principais economias do planeta.
Reino Unido
Nas terras da rainha Elizabeth, berços das duas primeiras revoluções industriais, a aposta é na melhora do ambiente de negócios. Marcone Siqueira, da aceleradora The Bakery, situada na Inglaterra, explica que o governo promove deduções fiscais. “As principais beneficiárias são empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O governo britânico já gerenciou fundos de investimento em startups, mas hoje eles não trabalham mais desta forma”.
Siqueira destaca que a aposta foi no fortalecimento do ecossistema, sem necessariamente realizar um aporte financeiro. “É fácil abrir uma empresa, a legislação trabalhista e empresarial é muito facilitada. Foram criados mecanismos para startups e pessoas físicas investirem em P&D”. Os cidadãos que investem em startups, chamados de investidores anjos, tem abatimentos de impostos no Reino Unido.
Outro ponto da cadeia bem desenvolvido é a forma de inovar. As grandes empresas apostam em um modelo aberto. Como o ecossistema de inovação é consolidado no país, elas têm como rotina buscar soluções com startups. “As grandes empresas destravaram a burocracia interna para que elas possam se beneficiar do relacionamento com startups. Toda grande empresa também tem muito problemas. Por outro lado, existem empreendedores, nas startups, com novas tecnologias”, explica Siqueira.
Alemanha
Se o Reino Unido foi responsável por inovar nos séculos 19 e 20, os olhos do mundo, agora, estão voltados para a Alemanha. A quarta revolução industrial teve como ponto de partida as fábricas alemãs. A inovação é um dos pilares de desenvolvimento do país, destaca Bruno Zarpellon, da Câmara Brasil Alemanha.
“Praticamente 100% da verba destinada para inovação é investida em pequenas e médias empresas. Dentro das pequenas e médias empresas temos também o grupo das startups. São incentivos para que estudantes possam desenvolver suas ideias. O governo dá uma bolsa para que o estudante não precise trabalhar e possa se dedicar à ideia. Existem também fundos de investimento do próprio governo voltados para startups”. Além dos incentivos com carimbo alemão, as startups podem concorrer a verbas europeias.
Uma das estratégias de inovação são os projetos pré competitivos. A ideia é observar quais tecnologias ainda precisam ser inventadas. “Há 50 anos, quando olhávamos o combustível, mas ainda não existiam as plataformas de extração, o próprio governo poderia ter incentivado projetos que agregariam para todo o setor de petróleo e não apenas para uma empresa”, analisa Zarpellon.
Portugal
Portugal tem sido um exemplo bem sucedido quando se fala em ecossistema inovador e forte. Um dos maiores eventos mundiais de inovação acontece em terras portuguesas: o Web Summit. Na última edição, ocorrida em Lisboa no fim de novembro, foi confirmada a permanência do evento em Portugal até 2028. Outras cidades como Madri, Paris, Londres e Berlim tentaram seduzir a organização, mas não obtiveram sucesso.
Para Carolina Lousinha, gerente de Promoção da AICEP, agência do governo português que apoia a internacionalização de empresas, a permanência do Web Summit em Lisboa mostra como o ecossistema de inovação tem apresentado bons resultados. “O Estado tem dado apoio a este ecossistema de forma transversal. Vão desde de incentivos a incubadoras e aceleradoras, empresas de coworking, novos empreendedores e aqueles que já estão no mercado. Ainda existem os fundos de investimento. O apoio é bastante abrangente”.
O governo atua em duas vertentes, tanto no aporte financeiro, destinando verbas diretamente para startups, como aprimorando o ambiente de negócios. “É uma combinação de vários fatores, por um lado existe o papel de facilitador do Estado, hoje é muito fácil se abrir uma empresa em Portugal. Mas, também, há financiamento e apoio a internacionalização”, relata.
Carolina destaca que além do governo, outros atores fortaleceram o ecossistema. “As empresas e universidades procuram, juntas, soluções inovadoras para facilitar procedimentos e tornar a economia mais competitiva. Isso faz parte do ecossistema que tem se saído muito bem em Portugal”.
Empresas lusas de software estão em mais de 140 países. Uma iniciativa chamada Startup Portugal foi concebida em 2016 visando a aceleração de empreendimentos portugueses no exterior. O resultado é que o ecossistema do país já gerou três startups unicórnio. As unicórnios são empresas de base tecnológica que alcançam um valor de mercado superior a um milhão de dólares.
Inovação aberta
Um ponto de consenso entre os três países é a forma aberta de inovar. Assim como foi dito no caso do Reino Unido, empresas de Portugal e Alemanha também têm apostado no método. Na prática, significa que os empreendimentos expõem seus problemas ao ecossistema de inovação, composto por startups, institutos de pesquisa, entidades governamentais e outras empresas. Esse grupo analisa a questão e propõe soluções.
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Guto Ferreira, aponta que no setor de serviços esse método tem sido mais aplicado. “As empresas jogam seus problemas no mercado e esperam que venham os resultados, sem muita preocupação se os concorrentes vão roubar suas ideias. No setor industrial é um pouco mais complicado, porque as empresas são fechadas e preocupadas com espionagem, por exemplo”.
Ferreira aponta que no Brasil esta forma de inovar ainda deve demorar. “Como o mercado brasileiro é muito grande, nossa tendência é de concentrar a inovação. Lá fora, eles precisam conviver com várias tecnologias entrando para poder acessar novos mercados”.