Explica aí, ABDI: “Inteligência Artificial” 

 Explica aí, ABDI: “Inteligência Artificial” 

Isabela Gaya, gerente de Difusão de Tecnologias da Agência, aborda o cenário da IA no setor produtivo brasileiro e destaca as ações da ABDI para fomentar soluções de IA, sobretudo o apoio a startups e empresas

A inteligência artificial (IA) vem ganhando cada vez mais espaço na indústria, revolucionando processos e impulsionando a produtividade.  A tecnologia pode ser utilizada para otimizar o trabalho, acelerar tarefas e melhorar a eficiência em diversas áreas, transformando a maneira como se opera e produz. 

No quadro “Explica aí, ABDI” desta semana, a gerente da Unidade de Difusão de Tecnologias da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Isabela Gaya, aborda o cenário da IA no setor produtivo brasileiro, as ações da ABDI para fomentar soluções de IA, sobretudo o apoio a startups e empresas, e aborda o potencial e oportunidades da tecnologia no mercado de trabalho.  

Como a ABDI está promovendo a adoção da inteligência artificial na indústria brasileira, especialmente as pequenas e médias? 

Isabela Gaya: A inteligência artificial é uma tecnologia com grande potencial para ajudar a indústria a resolver seus problemas. O diferencial da IA é sua capacidade de aprendizagem e adaptação contínua, possibilitada pelos algoritmos. Isso permite diversas aplicações, como o reconhecimento de padrões, a análise de falhas, a verificação de qualidade de produtos e até a geração de conteúdo.  

A inteligência artificial consegue tomar decisões a partir de dados, o que torna possível o funcionamento de máquinas autônomas de forma rápida e eficiente, por exemplo, em sistemas de comparação online. Esses diferenciais da IA ajudam na automação industrial, proporcionando mais eficiência, qualidade e produtividade. No entanto, a implementação da IA ainda enfrenta muitos desafios, e é nesse ponto que a ABDI entra, buscando auxiliar as indústrias nesse processo. Atuamos como um verdadeiro laboratório de inovação, apoiando as empresas na adoção dessas tecnologias.  

Nossa atuação [ABDI] pode ser dividida em três grandes frentes. A primeira é a inteligência, na qual buscamos informações, fazemos mapeamentos e diagnósticos para entender os problemas e necessidades do setor produtivo, identificando onde a inteligência artificial pode ajudar. Um exemplo disso foi um levantamento de seis casos de uso da IA (inteligência artificial) no Brasil, abrangendo empresas de diferentes tamanhos. Esse estudo será compartilhado em breve.  

A segunda frente é o laboratório, onde disponibilizamos editais e fomentamos a adoção de soluções de IA por empresas que consideramos pioneiras. Elas recebem prêmios e incentivos para desenvolver e adotar essas tecnologias, e os resultados servem como exemplo para outras indústrias, estimulando a inovação e a acessibilidade. 

Por fim, temos exemplos concretos de sucesso. No polo industrial de Manaus, um projeto que utilizou IA em uma máquina resultou em um aumento de 8% na eficiência operacional (OEE). Temos também aplicações no setor de saúde e agronegócio, com projetos de adoção de IA (inteligência artificial) em estados como o Amapá, que atendem tanto grandes quanto pequenas empresas. 

Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam ao implementar soluções de IA, e como a ABDI está ajudando a superá-los? 

Existem dois grandes desafios para a adoção da inteligência artificial. O primeiro desafio é a falta de conhecimento por parte das empresas, da indústria e dos produtores rurais sobre como a IA pode ajudá-los. Muitas vezes, eles não sabem quais são as vantagens e os diferenciais que a IA pode trazer para seus negócios. Isso não ocorre apenas entre os responsáveis pelas empresas, mas também entre os operadores das soluções que poderiam utilizar a inteligência artificial.

O segundo grande desafio é a qualificação da mão de obra. É essencial capacitar as pessoas para usar a IA e compreender como ela pode ser útil no dia a dia delas. Ainda, a qualidade dos dados é outro ponto crítico. Para que a IA funcione, o principal insumo são os dados. Sem dados de qualidade, a IA não tem como operar de forma eficiente.

Muitas vezes, é necessário trabalhar na estruturação e organização dos dados, garantindo que eles sejam confiáveis e adequados para alimentar as soluções de IA. Nos nossos laboratórios, desenvolvemos projetos que visam demonstrar como a indústria pode superar esses desafios e avançar na jornada de implementação da inteligência artificial. 

Como a agência enxerga o impacto da IA nos diferentes setores da indústria no Brasil nos próximos cinco a dez anos? 

Nós já temos a inteligência artificial sendo aplicada em vários setores no Brasil. Estudamos isso em detalhes, e conseguimos identificar as principais áreas onde a IA já está sendo utilizada, como na indústria de transformação, no agronegócio, no varejo, em compras e vendas, no setor financeiro, em recursos humanos, recrutamento e capacitação, entre outros.  

No entanto, essas aplicações ainda enfrentam desafios, e há um enorme espaço para crescimento e evolução nos próximos cinco a dez anos. Consultorias indicam que ainda estamos em uma fase inicial de adoção da IA no Brasil, e que seu potencial é imenso. O futuro da IA inclui não apenas a integração com outras tecnologias, mas também um aprofundamento em áreas que ainda estão começando a explorar suas possibilidades, como a saúde.  

Na saúde, por exemplo, a IA pode proporcionar diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados. A personalização é uma tendência forte, com a perspectiva de que, no futuro, medicamentos possam ser personalizados de acordo com o DNA e as condições específicas de cada paciente, tornando os tratamentos mais eficazes. 

Além disso, a IA generativa, como os chatbots e outras tecnologias que estão em alta no momento, também apresenta desafios em termos de custo-benefício para as empresas e indústrias. Embora já estejamos vendo benefícios, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que essas tecnologias sejam plenamente amadurecidas e integrem de forma eficiente os processos produtivos. 

Quais são as iniciativas da ABDI voltadas para a capacitação de profissionais em inteligência artificial e a criação de uma força de trabalho preparada para o futuro? 

Nós oferecemos um curso de capacitação em inteligência artificial, que já está na sua quarta turma, com mais de 1.200 inscritos. O curso tem duração de seis meses e é bastante completo. Nosso público-alvo são representantes da indústria, que podem participar gratuitamente. A cada nova turma, representantes de diversas empresas têm a oportunidade de conhecer melhor os potenciais da inteligência artificial. 

Esse curso, realizado em parceria com a empresa Dois a Dois, é estruturado em diversas etapas, com provas e exercícios. Não é um curso fácil, mas para aqueles que conseguem concluir todas as fases, há uma grande recompensa. Ao final, os alunos que forem aprovados recebem uma consultoria da empresa parceira para desenvolver uma proposta de projeto de IA aplicada à sua própria empresa. Estamos muito satisfeitos com os resultados, e já temos projetos sendo desenvolvidos a partir dessa capacitação. 

Como a ABDI colabora com startups e empresas de tecnologia para desenvolver inovações em IA que possam beneficiar a indústria brasileira? 

Entendemos que as startups podem ajudar o setor produtivo não apenas trazendo novos produtos, mas também novas formas de pensar e inovar. Elas oxigenam a inovação das indústrias, introduzindo metodologias ágeis, como a validação rápida de ideias, produtos e modelos de negócio. Por isso, é fundamental conectar as startups com o setor produtivo. Quando realizamos nossos editais, muitas vezes são soluções de startups que são aplicadas.  

Não apenas desenvolvemos esses editais, mas também investimos no processo de aceleração dessas startups, ajudando-as a potencializar suas soluções. Durante essa aceleração, elas têm a oportunidade de discutir a modelagem de escala e validar seus produtos. Como estamos próximos da indústria, temos a abertura necessária para ajudar as startups a testar e validar seus produtos no ambiente industrial, ao mesmo tempo em que auxiliamos as indústrias a se conectarem com essas soluções inovadoras. 

Colaboramos não apenas com as startups, mas com todo o ecossistema de inovação, conectando instituições e ampliando as oportunidades de negócios. No que diz respeito à inteligência artificial, ela tem sido uma solução cada vez mais exigida pelas empresas. A IA é uma tecnologia habilitadora da Indústria 4.0, com a qual já estamos trabalhando há pelo menos oito anos.  

Muitas empresas já utilizam algoritmos, redes neurais e outros recursos de IA há algum tempo, especialmente grandes empresas, que já se beneficiam da análise de dados e estatísticas. No entanto, o “hype” da IA generativa, como chatbots e outras soluções recentes, ganhou força nos últimos dois anos. Isso trouxe a IA ainda mais para o centro das discussões e, certamente, continuará sendo uma tecnologia cada vez mais falada e utilizada.