A transição energética modificou o foco central da economia global no século XXI. Com as metas internacionais de redução de emissão de gases de efeito estufa, os investimentos em segurança energética e descarbonização da indústria, previstos na Missão 5 da Nova Indústria Brasil (NIB), são importantes instrumentos para a transformação no setor de energia, que se tornou inevitável e irreversível.
No “Explica aí, ABDI” desta semana, a diretora de Economia Sustentável e Industrialização da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Perpétua Almeida, fala sobre transição energética, que consiste na substituição da matriz de fonte de energia que utiliza combustíveis fósseis para fontes renováveis, como sol, água, biomassa, dentre outros. Segundo a diretora, embora a eliminação total de petróleo e carvão não seja imediata, investimentos em novas tecnologias e a criação de empregos verdes são cruciais para o processo.
“A ABDI desempenha um papel essencial na aceleração da transição energética, apoiando políticas e estratégias que promovem o desenvolvimento tecnológico e a produção de energias renováveis. Estamos também incentivando investimentos em cadeias produtivas como as de energia eólica e solar,” destaca Almeida.
O que é a transição energética e por que ela é considerada essencial para o futuro do planeta?
Perpétua Almeida: A transição energética não se refere apenas à mudança na matriz energética, mas também a transformações em nosso cotidiano e na indústria para preservar a vida no planeta. Isso está diretamente relacionado à maneira como lidamos com o meio ambiente, com a gestão de resíduos, com a eficiência energética, com a digitalização na indústria e com a busca por todos os meios necessários para alcançar as metas de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), cujas consequências para o clima são dramáticas.
A transição energética envolve, principalmente, a substituição de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, por alternativas que emitam menos gases de efeito estufa. Esses gases são os principais responsáveis pelo aquecimento global e pelos fenômenos climáticos extremos que geram desequilíbrios em nossas vidas. Você pode perguntar: já é possível realizar essa mudança rapidamente, como deixar de usar petróleo, gás de cozinha e outros combustíveis fósseis de uma hora para outra? A resposta é não. Trata-se de um processo gradual, que exige investimentos em pesquisas e novas tecnologias, além da criação de empregos verdes, redução da poluição e a consequente melhoria da saúde pública e do meio ambiente.
Graças aos investimentos que o Brasil já fez, nossa matriz energética é composta por 83% de energia limpa, o que nos coloca cerca de 25 anos à frente de muitos países do mundo. No entanto, é fundamental que o país continue avançando. Essa tendência é promissora, já que o governo federal está promovendo políticas de descarbonização e incentivando o uso de energias renováveis. A ABDI é uma peça-chave nesse novo momento de transformação da indústria nacional.
Quais são as principais fontes de energia limpa e renovável que desempenham um papel fundamental na transição energética?
As fontes de energia solar e eólica estão entre as que mais crescem no mundo atualmente. Isso acontece não apenas porque são renováveis e sustentáveis, mas também porque já se tornaram mais competitivas em termos de custo em comparação com fontes de energia de origem fóssil, como o carvão. Além de serem economicamente viáveis, essas fontes têm outra grande vantagem: elas podem ser usadas para produzir o chamado hidrogênio verde. Esse tipo de hidrogênio é gerado por meio de um processo chamado eletrólise, no qual a água é dividida em hidrogênio e oxigênio usando eletricidade proveniente de fontes renováveis, como a solar e a eólica.
O hidrogênio verde é essencial na transição para uma economia de baixo carbono, pois é um vetor de descarbonização, ou seja, ajuda a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em setores que são mais difíceis de eletrificar, como a produção de aço (siderurgia) e cimento. O hidrogênio renovável pode ser combinado com CO2 biogênico (CO2 de origem orgânica, que não aumenta a concentração de gases de efeito estufa) para a produção de combustíveis sintéticos. Esses combustíveis são especialmente úteis em setores como o marítimo e a aviação, que ainda dependem muito de combustíveis fósseis.
Outro elemento importante na transição energética são os biocombustíveis, que têm um grande papel no Brasil devido às condições naturais favoráveis do país, como solo fértil e clima adequado. O Brasil já é um líder mundial na produção de biocombustíveis, e esse setor será cada vez mais importante para a redução das emissões de carbono, principalmente no transporte.
Como a transição energética afeta os setores tradicionais de energia, como o petróleo e o carvão, e o que isso significa para esses mercados?
Como a transição energética exige substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, é esperado que, a longo prazo, o uso de petróleo e carvão seja gradualmente reduzido. No entanto, é provável que essas fontes ainda desempenhem um papel menor na matriz energética até 2050 e, possivelmente, durante o restante do século.
Quais são os principais obstáculos tecnológicos para a adoção de energias renováveis em larga escala?
Atualmente, os principais desafios tecnológicos envolvem melhorar a eficiência dos painéis solares e turbinas eólicas, além de avançar no desenvolvimento de baterias para carros elétricos. Também são necessárias inovações em biocombustíveis e células de hidrogênio, especialmente para caminhões e transporte pesado, que ainda são altamente dependentes do petróleo.
De que maneira a ABDI pode colaborar para acelerar o processo de transição energética?
A ABDI tem sido fundamental no desenvolvimento de políticas para aprimorar a tecnologia e a produção de equipamentos para energias renováveis. A agência participou ativamente da criação da NIB (Nova Indústria Brasileira), um projeto voltado para promover a inovação e o fortalecimento das indústrias de energia renovável.
Atualmente, a ABDI está colaborando na formulação de um conjunto de medidas lideradas pela Casa Civil da Presidência da República para avançar ainda mais nesse setor. Isso inclui apoiar iniciativas como o programa de exportação da ApexBrasil para a cadeia produtiva eólica, que visa explorar mercados internacionais devido à baixa demanda doméstica por energia eólica. A agência está focada em fortalecer o setor de energias renováveis do Brasil, tanto através do incentivo à produção interna quanto pela expansão das exportações.