O Exército Brasileiro deverá dar um importante salto tecnológico na indumentária da tropa, a partir de 2019. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lançou o edital de concurso para a aquisição de três protótipos de uniformes inteligentes, que deverão ser compostos por camiseta manga curta, meias, cinto, gandola camuflada e calça camuflada de combate. O protótipo a ser desenvolvido deverá ser operacional para forças terrestres com vistas a atender ao mercado nacional e internacional, incluindo a possibilidade de aplicação dual, mediante a incorporação de tecnologias inovadoras em design, produtos têxteis, novos materiais e eletrônica embarcada.
As inscrições devem ser feitas até o dia 7 de novembro e podem participar pessoas físicas ou jurídicas que atendam integralmente às exigências do edital, publicado no site da ABDI. A premiação, no valor total de R$ 120 mil, será entregue no dia 27 de novembro para o 1º lugar (R$ 50 mil), 2º lugar (R$ 40 mil) e 3º lugar (R$ 30 mil), e os protótipos serão entregues à ABDI até o dia 18 de dezembro.
O presidente da ABDI, Guto Ferreira, explica que um dos objetivos do concurso é contribuir com o processo de inovação da Defesa Brasileira, por meio da incorporação de tecnologias que atendam às necessidades das forças operacionais e, ao mesmo tempo, promover a competitividade da indústria têxtil. “Não temos a menor dúvida de que o setor têxtil é extremamente competitivo e está pronto para atuar com tecidos inovadores, novos materiais e tecnologias eletrônicas embarcadas. Este é um primeiro desafio para a incorporação de soluções tecnológicas em uniformes operacionais, mas que poderá transbordar para outros segmentos do mercado civil nacional e internacional. É uma importante vitrine para o setor produtivo brasileiro”, explica o presidente.
De acordo com o general de Divisão do Exército, Aderico Mattioli, a parceria com a ABDI contribui para a inserção das forças terrestres no contexto de transformação digital, impulsionado pela indústria 4.0. “Esta parceria com a Agência nos ajuda a ter consciência situacional sobre o novo contexto tecnológico global. E a proposta do uso do uniforme inteligente é só o primeiro passo, tanto para proteger nossa tropa, quanto para garantir maior produtividade e eficácia na hora da ação do combatente”, avalia o general.
Segundo o General Mattioli, os uniformes serão utilizados para o combate, adestramento das tropas, em situações de selva, forças especiais, paraquedismo e outras situações extremas. O projeto piloto deverá atender, de acordo com o edital, às especificidades de corte dos tecidos e adaptações estruturais dos moldes para usuários do segmento masculino. A comissão de avaliação – composta por 10 integrantes, representantes da ABDI, do Exército, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), além da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) – ficará responsável por avaliar itens como: impermeabilidade; resistência física; proteção UV; encapsulamento de princípios ativos; proteção térmica; sensores (de sinais vitais, hidratação, temperatura, RFID, umidade, presença de gases, entre outros), captação, condicionamento e armazenamento de energia solar para alimentação de sistemas embarcados; além de inovações em camuflagem e design.
Conhecimento dual
O General Aderico Mattioli ressalta, ainda, que o conhecimento adquirido a partir do projeto piloto dos uniformes inteligentes tende a ser transversal. “É uma via de mão dupla. O conhecimento dual sai da Defesa para outros setores produtivos e desses setores para a Defesa. A partir dos testes e certificações dessas soluções pelas forças operacionais, várias inovações ganham escalabilidade e podem ser aplicadas na área de saúde, alimentação, prática esportiva, operações de mergulhadores”, afirma o militar, ao exemplificar o uso da nanotecnologia nos tecidos para aplicação de medicamentos e monitoramento dos batimentos dos combatentes em ação.
A especialista em Indústria de Defesa da ABDI, Larissa Querino, destaca que o principal objetivo do concurso é agregar tecnologias do setor têxtil com as inovações em wearables. “São uniformes que possibilitarão o monitoramento da saúde do combatente em um ambiente hostil, maior resistência ao fogo, cortes, proteção repelente, conforto térmico, recarga de energia, entre outras inovações”, enumera a especialista, ao frisar que a etapa prevê a produção de um lote piloto para teste militar.
O Exército já realizou, de acordo com o General Mattioli, outras iniciativas de uniformes inteligentes para as tropas, mas nenhuma ação previu a prototipação e a produção do lote inicial. “Será a primeira vez que avançaremos até a construção de um lote piloto, com a adoção do produto, os testes, as certificações e o consequente reconhecimento para a produção em escala”, observa o general.
Mapeamento da Indústria de Defesa
A ABDI mantém parceria com o Ministério da Defesa há mais de dez anos. Em recente trabalho desenvolvido em 2016, intitulado Mapeamento da Base Industrial de Defesa, a Agência apresenta uma visão sistêmica da competitividade, da capacidade produtiva e tecnológica e de inovação das empresas da Base Industrial de Defesa (BID), com análises precisas sobre o mercado, voltadas para a superação de gargalos tecnológicos, o aumento da competitividade e o incentivo às exportações.
“Nossa parceria com a ABDI é muito estratégica. Temos de ter inteligência tecnológica, industrial e comercial. E a Agência está no centro desses três vetores, contribuindo para que a Defesa Brasileira esteja alinhada com essa era de conhecimento exponencial e com as principais inovações do setor”, avalia o General.
O presidente Guto Ferreira lembra que a Defesa é um importante balizador de inovações tecnológicas. “Quando uma solução tecnológica é testada e certificada pelas forças, ganha muito mais capacidade de transbordar para outros setores e, inclusive para o mercado internacional, uma vez que já passou por uma série de exigências. O reconhecimento da Defesa é um passo muito importante para alavancar e dar vitrine para o setor produtivo”, finaliza Ferreira.
Edital
O edital lançado pela ABDI prevê a aquisição de três protótipos de uniformes inteligentes. A inscrição pode ser feita até o dia 7 de novembro e o anúncio dos três primeiros colocados se dará no dia 9 de novembro. A assinatura do contrato e a premiação será realizada no dia 27 de novembro. Os protótipos dos uniformes deverão ser entregues até o dia 18 de dezembro. No primeiro trimestre de 2019, a ABDI deverá agregar as especificações contidas no projeto executivo dos protótipos com as especificações do Exército Brasileiro e encaminhar para a produção de um lote piloto com outros parceiros para que possam ser utilizados para testes militares. Para mais informações sobre o edital de Uniformes Inteligentes clique aqui.