Terceiro produtor mundial de alimentos, o Brasil é rico em oportunidades de aumento da eficiência, ganho de produtividade e redução de custos no agronegócio, por meio da adoção de tecnologias inovadoras. De acordo com um estudo do McKinsey Global Institute, há uma expectativa de que, em 2025, o impacto do uso da tecnologia no campo no país possa gerar ganhos entre US$ 5 bilhões e US$ 21 bilhões, com queda de até 20% no uso de insumos agrícolas e alta de até 25% na produção das fazendas.
De olho nesse cenário, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) realizou, em parceria com os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Economia, e Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), um edital para fomentar, estimular e colaborar no processo de adoção e difusão dessas tecnologias no campo. O resultado desse trabalho, que selecionou, entre 100 propostas de todo o Brasil, 14 projetos pilotos, foi apresentado, nesta quarta-feira (24), no Fórum Agro 4.0, realizado pelo Correio Braziliense, com patrocínio da ABDI, que reuniu autoridades, especialistas e convidados. A mediação foi feita pelo editor executivo do Correio, o jornalista Vicente Nunes.
Os projetos, a maioria concluídos ou em fase final de execução, usaram tecnologias como internet das coisas, sensoriamento remoto, geolocalização, inteligência artificial, analytics e robótica.
Na abertura do evento, o Secretário Especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia e presidente do Conselho Deliberativo da ABDI, Carlos Da Costa, afirmou que a ABDI se transformou num campo de provas, em que são pilotadas as tecnologias mais promissoras, e são feitos pilotos para testar o que ocorrerá depois quando forem utilizadas em escala maior.
"O Agro 4.0 é um dos exemplos dos resultados que estão sendo entregues pela ABDI para todo o Brasil. Um programa para comemorar resultados absolutamente extraordinários de um projeto vencedor e que pode ter impacto semelhante ao pacote tecnológico que transformou o campo brasileiro nessa pujança que temos hoje", disse.
Em seu discurso, o presidente da ABDI, Igor Calvet, destacou que as tecnologias 4.0, como IoT, Big Data, Analytics, visão computacional, entre outras, aplicadas ao campo, estão trazendo mais produtividade e qualidade de vida para as pessoas. “Com o Edital que lançamos, estão sendo difundidas para mais de 700 produtores nas cinco regiões do Brasil. Também mapeamos o ecossistema de inovação do agro e estamos elaborando um roadmap para os produtores, uma trilha para ajudá-los a adotar as tecnologias 4.0”.
Para o secretário de Inovação do MAPA, Fernando Camargo, que também participou da abertura do Fórum, parcerias como essa, como o Edital Agro 4.0, que fomentam novas ideias, inovação, sustentabilidade e o bem comum, devem continuar. “A agricultura e a pecuária são movidas à ciência, tecnologia e inovação. Nos anos 70, o Brasil era importador de alimentos. Fizemos uma revolução no cerrado brasileiro, com muita tecnologia, com a Embrapa. E hoje somos o terceiro produtor mundial de alimentos”, afirmou.
O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), ressaltou a importância da conectividade no campo. “Pela nossa estruturação, pela conexão da roça, temos a dimensão clara que, com o leilão que tivemos agora vamos ter 5G no Brasil todo e o produtor de qualquer tamanho terá igualdade de oportunidade."
De acordo com ele, as propriedades rurais que não acolherem as tecnologias 4.0 não durarão mais do que cinco, seis anos. “A agricultura 4.0 e o 5G vão chegar às propriedades de forma avassaladora”, afirmou.
Depois da abertura, dois painéis apresentaram os resultados de oito dos 14 projetos selecionados pelo Edital (confira abaixo).
Ao final, o diretor de Soluções Inteligentes da John Deere, Rodrigo Bonatto, realizou uma palestra sobre “Oportunidades do Agro 4.0 para aumento da produtividade e competitividade no Brasil”. De acordo com ele, o país agora precisa se voltar para o tripé sustentabilidade econômica, social e ambiental. “O Brasil já é o grande celeiro de comida no mundo e a tecnologia vem trazer um passo a mais: um agro sustentável ambientalmente”.
Para ele, só produzir mais não é suficiente. Hoje é preciso pensar na geração de riqueza (sustentabilidade econômica), equidade na distribuição de renda (sustentabilidade social) e proteção do meio ambiente (sustentabilidade ambiental). “O desafio nos próximos dez anos será saltar dos atuais 300 milhões de toneladas de grãos produzidos para 500 milhões, sem aumentar a área, por meio do uso de tecnologia”.
Os projetos apresentados:
1) Pulverização inteligente
O sistema de pulverização localizada, da Smart Sensing, por meio de sensoriamento remoto, permite que apenas as ervas daninhas recebam o herbicida. Os resultados na Fazenda Nova Geração, em Chapadão do Céu (GO), são animadores: redução de 70% no uso de herbicidas, em geral; redução de 20% no uso de desfolhante na cultura da soja; e redução de 30% no uso de inseticida na cultura do milho.
2) IOT para câmara de produção de bioinsumos
A Internet das Coisas (Iot) é a grande aliada do projeto da Usina Biológica, em Londrina (PR). A solução, aplicada pela Indusfrio, é usada na produção de bioinsumos para biodefensivos. Os resultados até agora foram o aumento de 150% da capacidade populacional de bioinsumos por câmara; ganhos de produção de ovos por fêmea com aumento de 100%; redução da mortalidade na criação de macrobiológicos de 20%; e redução de 50% no uso de inseticida químico.
3) Digitalização da cadeia do peixe
O projeto da startup bussola.farm implantou nos 52 municípios de Rondônia o sensoriamento remoto e geolocalização, para monitorar a piscicultura do estado. Assim, os compradores conseguem localizar novos fornecedores online. O aumento de fornecedores em uma das empresas envolvidas foi de 20% até o momento.
4) Irrigação inteligente
Projeto da RAKs, em parceria com a Agropecuária Bergoli (BA), utiliza a Internet das Coisas para implementar um sistema de monitoramento de umidade do solo, com objetivo de quando e quanto irrigar. Os resultados até agora mostraram o potencial de redução em 20% da quantidade de irrigações em cada pivô. O custo de energia elétrica na lavoura de milho foi reduzido em 30%.
5) Sistema de suporte ao controle de ferrugem da soja
Um sistema de inteligência artificial que protege a cultura de soja contra a ferrugem asiática é o projeto da startup Smart Agri, em parceria com a consultoria Granja Jaguari, que está sendo implantado em vinte lavouras no Rio Grande do Sul. Os resultados iniciais apontam para redução de 22,6% no uso de fungicidas ou substituição por biodefensivos, pelo uso dos dados do coletor de esporos.
6) Plataforma de avaliação do índice de digitalização do produtor de soja
O projeto da Drakkar lançou uma plataforma gratuita para os produtores rurais fazerem um rápido diagnóstico de seu Índice de Digitalização e Tecnologia (IDT). E indica ações para avançar nesse processo A meta é coletar dados de 5 mil produtores de soja no País. Os resultados mostram que 15% dos produtores estão no nível básico, 61% no nível intermediário e 22% no nível avançado.
7) Automação do revolvimento de café
A Fazenda Goiabal (RJ) está usando robótica para revolver o café no terreiro. Essa fase do preparo do produto conta um rover (uma máquina) que substitui o trabalho braçal. O resultado foi de 10% de economia de tempo no revolvimento do café no terreiro e de 12% na melhoria da qualidade dos grãos.
8) Ponto ótimo de abate, inteligência de mercado para venda e integração com frigorífico
A startup @Tech está usando visão computacional, métodos de otimização e inteligência artificial para ajudar na definição do melhor momento da venda do gado de corte. Em média, o aumento no lucro dos produtores chega a 30%. Além disso, há melhoria de 12% no padrão das carcaças, 22% na conversão alimentar e redução de até 25% na emissão de poluentes.