Um encontro virtual com a participação do presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Igor Calvet, debateu, na manhã desta quinta-feira (13/4), o tema "Cidades Inteligentes: Oportunidades para a Indústria, governo, negócios e pessoas". Promovido pela Câmara de Cidades Inteligentes da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) e da Academia FIESC de Negócios, o debate também reuniu o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Santa Catarina, Marcelo Fett, e o CEO do iCities, Beto Marcelino.
Mediado pelo presidente da Câmara de Smart Cities da FIESC, Jean Vogel, o encontro abriu reflexões sobre como transformar os conceitos de cidades inteligentes em ações concretas para transformar cidades em plataformas para o desenvolvimento de talentos e negócios. Igor Calvet abriu sua apresentação lembrando o pensamento de um dos mais importantes geógrafos brasileiros, Milton Santos. “A cidade é um espaço, mas um espaço que alia a técnica”.
A referência conduziu a fala do presidente da ABDI, com foco na necessidade de as cidades se adaptarem tecnologicamente aos novos tempos, inclusive em sua configuração urbana. “Essa pode ser uma técnica que beneficia um maior número de pessoas ou que exclui”, alertou. “O nosso desafio é fazer com que o espaço seja recheado de técnica, mas de técnica que consiga configurar melhor as relações sociais e as relações econômicas”.
Para isso, as soluções devem levar em consideração que toda cidade é composta por múltiplas camadas interrelacionáveis, marcadas pela diversidade de atores e atividades, como comércio, vendedores ambulantes, igrejas e shopping centers. “Para que isso aconteça de maneira mais harmônica, inclusiva e sustentável, precisamos que essa técnica oferecida pelas cidades inteligentes seja bem apurada”, pontuou. “É necessária uma orquestração pública para que isso dê certo”.
Como exemplo do impacto das tecnologias na conformação do espaço urbano e como elas influenciam as cidades, Calvet recordou o início do século XX, quando as pessoas se locomoviam por meio de charretes em espaços marcados por vias estreitas. “A tecnologia de mobilidade alterou completamente a forma das cidades, em menos de um século”, disse. “Trocamos os cavalos por automóveis, tivemos que expandir as vias e, ao expandi-las, mudamos o mercado imobiliário das cidades por precisar de locais para estacionar”, concluiu.
Ao tratar da concentração da população urbana no Brasil em mais de 84%, Calvet chamou a atenção para a crescente expectativa de vida do brasileiro como outro fato que demanda ajustes, nesse caso, para que as cidades se adequem e se tornem boas para os idosos. A superação de problemas a serem enfrentados pelas cidades brasileiras na busca da sustentabilidade, como a coleta de esgoto e o desperdício de água tratada – hoje, 38% dela é descartada – também foi mencionada. “Precisamos de tecnologia, de inovação para dar conta de problemas urbanos que tem rebatimento, obviamente, na saúde”, alertou. “Para isso, precisamos de empresas, startups, financiamentos públicos e privados para darem conta das transformações que a sociedade precisa”.
Sandboxes Regulatórios
A atuação da ABDI em favor das cidades inteligentes foi destacada pelo presidente da Agência por meio do desenvolvimento de projetos como os Sandboxes Regulatórios, que consistem em áreas de municípios, declaradas pela gestão local livres de regulação, para a realização de testes de tecnologias como sensoriamento de enchentes e uso de realidade virtual aumentada para controle de tráfego. “Hoje, são 24 sandboxes regulatórios no país. Estamos em Pacaraima, fronteira do Brasil com a Venezuela, e também Jaraguá do Sul, em Santa Catarina”, resumiu.
O projeto Conecta 5G, que trata da expansão e democratização da conectividade de quinta geração nos municípios brasileiros, também mereceu destaque. Calvet finalizou sua participação ressaltando o caráter desafiador e complexo da implementação de cidades inteligentes. “Queremos, via ABDI, dar condições para que as pessoas e as empresas, nesses ambientes, atuem de uma maneira mais livre. Nosso objetivo é acelerar a adoção de tecnologias e, mais importante, de cidades mais humanas e inteligentes no Brasil”.