Indústria poderá propor alterações em norma sobre cursos técnicos

Indústria poderá propor alterações em norma sobre cursos técnicos

ABDI e MEC vão criar metodologia para incluir o setor produtivo no processo de revisão do catálogo de cursos técnicos

A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Ministério da Educação (MEC) estão mobilizando entidades do setor produtivo para entender quais são as ocupações e competências que os empregadores dos vários segmentos econômicos estão demandando e pretendem demandar nos próximos anos.

O objetivo da iniciativa é aproximar o governo com setores da indústria para subsidiar a revisão do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT), referencial que orienta a oferta de educação profissional e tecnológica no Brasil. A participação de representantes do setor produtivo no processo de atualização do documento permitirá que os cursos sejam revistos com base também na percepção sobre as demandas por formação e qualificação apresentadas pela indústria.

“Há um descompasso entre a demanda por competências profissionais e a oferta de cursos para educação profissional e tecnológica. A produtividade certamente aumentará quando o processo de qualificação resultar do encontro entre essa demanda e oferta”, afirmou o presidente da ABDI, Igor Calvet, durante reunião ocorrida no último dia 3, na ABDI, com representantes do governo federal e do setor produtivo.

Pesquisa realizada pela ABDI, em setembro, mostrou que a maioria dos jovens brasileiros entre 16 e 29 anos não está consciente sobre as necessidades de formação profissional requeridas pela nova economia, baseada em funções ligadas à inovação tecnológica. “Há uma dissonância enorme entre o que pensam os jovens e o setor produtivo sobre as profissões do futuro”, avalia Igor. O resultado da pesquisa contribuiu para que a ABDI mobilizasse atores políticos e setor produtivo para repensar as políticas públicas voltadas para a formação e qualificação profissional.

O Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNTC), instituído por portaria em 2008, é atualizado periodicamente para contemplar novas demandas educacionais. Para a revisão, o MEC recebe as sugestões de instituições de ensino e de docentes. A novidade é que a ABDI e o MEC querem envolver, desta vez, os representantes da indústria com a finalidade de ouvir suas demandas por competências profissionais.

“Esse é o momento de diálogo com o setor produtivo para que possamos identificar subsídios e estratégias para o alinhamento entre a oferta de cursos e as demandas do setor”, disse a secretária-substituta de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Marilza Regattieri, presente na reunião.

Números apresentados pelo MEC mostraram que, enquanto 27,3% dos jovens estão desempregados atualmente, 40% das empresas têm dificuldades para encontrar mão de obra qualificada. Além disso, 11,1 milhões dos jovens fazem parte da chamada “geração nem nem”, nem estudam nem trabalham.

Segundo Marilza, a meta do MEC é elevar o número de matrículas em cursos técnicos e de qualificação profissional dos atuais 1,09 milhão para 3,4 milhões, em 2024.

O secretário de Políticas Públicas para o Emprego do Ministério da Economia, Fernando Holanda, acredita que a interlocução entre as instituições de ensino e o setor produtivo contribui para aumentar a empregabilidade e para melhorar a qualidade do emprego. “Nosso desafio é encontrar uma metodologia que contribua para satisfazer a demanda tanto daqueles que querem emprego quanto dos que querem contratar”, disse.

Déficit na formação

Cenário projetado pela Brasscom, associação brasileira que reúne 79 empresas de tecnologia da informação e comunicação, prevê crescimento de 12% dos setores de software e serviços nos próximos seis anos. Segundo Sergio Paulo Gallindo, presidente da entidade, esse crescimento vai criar uma demanda média anual de 70 mil profissionais da área de TI, que pode chegar a uma demanda total de 420 mil profissionais nesse período.

O problema é que, pelas contas da associação, o país forma apenas 37 mil profissionais por ano, o que pode gerar um déficit de cerca de 200 mil profissionais ao longo de seis anos. “Esse também é um déficit de PIB, porque o Brasil deixa de crescer”, afirmou Gallindo. “ Nosso maior desafio é fechar esse gap”, acrescentou.

Para receber as propostas do setor produtivo, a ABDI e o Ministério da Educação criaram um formulário na internet e convidaram os representantes do setor produtivo a preencherem com suas demandas por competências até o dia 21 de dezembro. Após essa etapa, o MEC avaliará as propostas, que servirão de subsídio para o processo de revisão do Catálogo.

A ABDI também ajudará o MEC a sistematizar metodologia para incorporar, de forma estruturada e regular, as demandas do setor produtivo por competências profissionais ao processo de revisão dos cursos técnicos.

» Confira abaixo as entidades, ministérios e instituições que participaram da reunião, além da ABDI: 

Ministério da Educação
Ministério da Economia
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
Ministério da Agricultura
Ministério da Saúde
Ministério da Infraestrutura
EMBRAPII – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial
Embratur 
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
ABIQUIM – Associação Brasileira da Indústria Química
CONTRATUH –  Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade
BRASSCOM – Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação
SEST/SENAT –  Serviço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte
CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola
CBIC –  Câmara Brasileira da Indústria da Construção
ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
ABF – Associação Brasileira de Franchising
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
CACB – Confederação das Associações Comerciais do Brasil
FBH – Federação Brasileira de Hospitais
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
CNDL – Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas
IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados 
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
CNSEG – Confederação Nacional das Seguradoras
ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes