Mercado de Realidade Virtual e Aumentada deve ultrapassar R$ 370 bilhões em 2020

Mercado de Realidade Virtual e Aumentada deve ultrapassar R$ 370 bilhões em 2020

Consumo de VR Headset chegou a 28 milhões de unidades no mundo. ABDI contribui para difundir tecnologia na indústria e no varejo

O mundo digital salta cada vez mais das telas de celulares e computadores e se mistura ao ambiente físico. Os dispositivos e aparelhos de Realidade Virtual (RV) e de Realidade Aumentada (RA) se destacaram primeiro no mercado de entretenimento, mas agora começam a ter usos em diversas áreas, da medicina à construção civil, da venda de imóveis à manutenção de aviões.

O mercado global de Realidade Virtual e Aumentada foi de U$S 3,2 bilhões (R$ 12 bilhões) em 2017, segundo os cálculos da IHS Markit, e deve movimentar aproximadamente US$ 100 bilhões (R$ 376 bilhões) em 2020.

Um índice desta tendência de expansão é medido pelo consumo de VR Headset (fones para RV), cujas vendas foram de 28 milhões de unidades em 2017 e devem chegar a 75,7 milhões em 2021. Os gastos com estes produtos devem passar de US$ 2,4 bilhões para US$ 5,9 bilhões no período, segundo a IHS Markit.

Um exemplo é o da Samsung, que colocou o HMD Odyssey a venda no Brasil em 2018. “Trata-se de um dispositivo que se tornou popular inicialmente no mundo dos games, mas com possibilidades que vão muito além, à medida que estão sendo desenvolvidos novos aplicativos para diferentes segmentos como educação, manufatura, treinamento profissional, venda de bens de consumo e entretenimento”, afirma Luciano Beraldo, gerente sênior da empresa no país.

A tecnologia permite que o jogador interaja com todos os elementos do cenário e tenha uma visão de 110°. “Atualmente, o foco principal é o entretenimento, com games imersivos e uma experiência que permite o usuário se sentir completamente no universo do jogo”, explica Beraldo. “Mas entendemos também que o dispositivo tem grande função junto a outros segmentos, como universidades. Os alunos poderão visualizar um molde em 3D e ainda manipulá-lo para entender como ele funciona em sua totalidade”.

Simulador aeronáutico

Dentre os segmentos que vem demandando tecnologias de Realidade Virtual fora do mundo do entretenimento está a indústria aeronáutica. O programa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) Conexão Startup Indústria uniu a Virtual Avionics com a Embraer, uma das maiores fabricantes de aviões do mundo. O resultado foi um simulador para ligar a aeronave e fazer os primeiros procedimentos para iniciar o voo.

O maior desafio foi fazer com que ao colocar os óculos de RV e mover as mãos, o usuário da tecnologia tivesse a sensação mais próxima possível da realidade, como explicou o responsável por desenvolver o software, Gabriel De Cicco. “Pensar esta interação entre os movimentos das mãos e o controle remoto, para que a pessoa sinta como são os comandos, o peso dos botões, alavancas e, assim criar uma memória muscular para os pilotos, é a parte mais complicada”, explica o profissional da Virtual Avionics, que recebeu treinamentos na Embraer.

“Foi muito importante esta parceria com a Embraer, uma empresa próxima e de ponta, para recebermos este know how deles”, afirma De Cicco. “A confiança foi conquistada com o tempo e conforme fomos estreitando a relação, mais informações a empresa nos passou”, prosseguiu.

Outra iniciativa da ABDI, os Test Beds para a Indústria 4.0 têm como objetivo estimular a inovação com a adoção de conceitos tecnológicos de ponta. Com a RV é possível realizar simulações em pátios fabris, manutenção de máquinas e treinamentos de funcionários. “Um dos principais ganhos é a capacitação do trabalhador, que conseguirá usar ao máximo as potencialidades do equipamento, aumentando eficiência e produtividade”, detalha Bruno Jorge, coordenador de indústria 4.0 da ABDI.

A diminuição dos custos com deslocamentos para treinamentos e de riscos para a integridade física dos trabalhadores, que podem fazer manutenções remotas em áreas de risco, são outras vantagens apontadas pelo especialista.

Novas experiências

Além do setor industrial, as tecnologias de RV e RA têm invadido o varejo. As vendas no comércio eletrônico brasileiro alcançaram R$ 23,6 bilhões no primeiro semestre de 2018, segundo dados da Ebit. Com a tendência de crescimento desta modalidade de negócio, os empresários têm investido em novas experiências para atrair os consumidores para as lojas físicas.

“O consumidor quer uma boa jornada e quer autonomia”, explica Eduardo Tosta, coordenador de Comércio e Serviços da ABDI. A Agência, inclusive, aposta nestes novos modelos de negócios e vem estimulando a adoção de tecnologias com experiências desenvolvidas no Laboratório de Varejo – ProVA. Uma delas é uma adega que facilita a decisão de compra para o consumidor e diminui a necessidade de espaço de armazenamento para os comerciantes. A loja tem 18 m².

“Temos um totem explicando os diferentes tipos de vinho. O consumidor que gosta de um vinho tinto seco, seleciona esta opção e automaticamente as luzes na prateleira em frente às garrafas que não são deste tipo de vinho se apagam”, exemplifica Tosta. “Se o cliente deseja três garrafas, ele compra ali na hora. Se ele quiser uma quantidade maior, ele recebe em casa no dia seguinte. Isso diminui a necessidade de estoque, com uma logística de entrega direta”, conclui.

Uma imobiliária de Curitiba aportou recursos em tecnologia para diminuir as visitas aos imóveis. Com equipamento para filmagem em 360°, a empresa conseguiu fazer um mapeamento detalhado das residências. Com o uso da Realidade Virtual, os clientes podem checar diversos endereços sem sair da loja física.

"Ele pode ir na nossa loja e visitar a maioria dos imóveis. Claro que quando ele for fechar uma compra, ele vai querer fazer uma visita para saber se o imóvel condiz com o que ele viu no tour. Mas, as visitas feitas são mais certeiras, o cliente vai com interesse maior e o tour serve como este filtro”, destaca Rodrigo Camargo, diretor da WInvestiments.

A novidade foi lançada em dezembro de 2018, com a inauguração de uma nova loja da empresa. Outra tecnologia incorporada ao negócio foi uma pirâmide holográfica, com recursos de Realidade Aumentada, que permite a visualização das maquetes dos imóveis.

“A gente mostra todo o nosso diferencial para o cliente ver que o investimento que fizemos foi alto. Por isso, pedimos exclusividade. Além dos equipamentos, tivemos que implantar um sistema de gestão diferente, porque no antigo não tinha como ter o tour virtual. São dificuldades que vamos nos adaptando e que são normais quando se faz algo novo”, completa Carmargo.

Um estudo da empresa de tecnologia PTC apontou que em 2017 o mercado de Realidade Aumentada movimentou US$ 2 bilhões no mundo, com estimativa de US$ 7 bilhões para o ano passado. Para 2021, este valor deve chegar a US$ 63 bilhões, cerca de R$ 236 bilhões na cotação atual. Oportunidades que Camargo dá a receita para aproveitá-las: “a gente tem que evoluir junto ao mercado, buscar inovações”.