A crise da pandemia atropelou todo mundo. Do pequeno comerciante às grandes empresas. Da noite para o dia todos tiveram que se reinventar e aprender como agir e sobreviver em meio a uma crise sem precedentes. Setores como o automobilístico sentiram fortemente o impacto. O varejo teve que se repaginar para se manter funcionando. O agronegócio, por sua vez, reforçou sua credibilidade com a manutenção do abastecimento de alimentos para a população.
Cada um em seu espaço e todos juntos. Essa foi a mensagem que representantes do setor automobilístico, de varejo e agropecuário passaram durante o webinar ‘Cenários da Indústria, Varejo e Agro no mundo pós-Covid-19’, promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e mediado pela jornalista Raquel Landim, da CNN Brasil. O webinar reuniu, além do presidente da ABDI, Igor Calvet; Pablo Di Si, presidente & CEO da Volkswagen América Latina; Marcelo Maia, presidente-executivo do Dia Brasil; e Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil.
“Temos uma COVID-19 para a qual ninguém se preparou e por razões óbvias trata-se de algo inesperado, um Cisne Negro, que exige a ressignificação do setor produtivo em menor e maior escala”, avaliou o presidente da ABDI.
O setor automobilístico foi um dos que viram suas vendas despencarem abruptamente e rapidamente teve que suspender a produção devido à pandemia. “Tivemos dois anos positivos de crescimento. No início deste ano, também começamos muito forte. E de um dia para o outro paramos”, relatou o presidente & CEO da Volkswagen América Latina.
Pablo Di Si ressaltou que a montadora foi uma das primeiras a suspender suas atividades no Brasil, consequência dos impactos já conhecidos na China onde também possui fábricas. “Aproveitamos o aprendizado da China. A nossa paralisação, em termos de caixa, foi violenta e o nosso primeiro foco foi congelar investimentos e todas as atividades do dia a dia, para proteger nosso caixa para a retomada”, disse. A empresa que tem três fabricas de carros e uma de motores no Brasil projeta uma volta ao trabalho em meados de maio.
O setor de varejo sofreu o impacto na via contrária, principalmente nos supermercados e farmácias que continuaram abertos para atender a população. “Fizemos uma força tarefa grande com nossos fornecedores para garantir o atendimento. Passamos a contratar muita gente e pessoas de varejo que estavam paradas. A cadeia de abastecimento não sofreu nenhum tipo de ruptura”, declarou Marcelo Maia, presidente-executivo do Dia Brasil.
De acordo com ele, o aprendizado também foi diário. As mudanças tiveram que ser implementadas na ponta, visando minimizar o impacto na saúde dos colaboradores e de clientes com a preocupação do álcool gel, do acrílico de proteção etc. “Essas mesmas atitudes adotamos nas centrais de distribuição. Essa mudança na forma de operar foi implementada a toque de caixa”, disse.
No campo, o agronegócio sentiu o impacto inicial, mas conseguiu manter a produção e o abastecimento não foi interrompido. Na avaliação de Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil, “no campo, onde menos pessoas se aglomeram, tudo isso ocorreu de maneira natural sem problema maior”. Ele ressaltou que a cadeia de logística sofreu impacto no começo da crise nas estradas – postos, restaurantes que pararam e tiveram que voltar para assegurar o deslocamento dos caminhões. “Mas tudo foi resolvido na primeira semana e por isso não vimos desabastecimento. O agro mostrou que é um setor forte e que não para”, disse.
Mundo pós COVID-19
O debate abordou também as perspectivas de mudanças nos modelos de negócios. Ficou clara uma certeza: o mundo sairá outro e a retomada da normalidade trará novos paradigmas. A China está dois a três meses à frente do mundo em relação à crise. “Lá, todas as nossas fábricas estão funcionando, e o interessante é que as pessoas estão comprando carros por medo de pegar o transporte público. Percebemos uma retomada do mercado”, contextualizou Pablo.
Para Marcelo Maia, “o novo ‘normal’ será diferente e devemos tirar algumas lições”. Segundo ele, essa foi a primeira crise onde houve uma preocupação unificada em atender ao consumidor final. “Uma das ideias que ficam é a de desenvolver mais produtos próprios onde a cadeia esteja toda integrada. O consumidor tenderá a procurar lojas de proximidade”, acredita.
Pelo aspecto tecnológico, mais conectividade, soluções inovadoras e novos modelos de negócios. Esse é o cenário que está por vir na avaliação dos participantes do webinar. No varejo “a ominicanalidade garantirá a proximidade e logística com produtos frescos e de qualidade, encurtando a cadeia entre o agro e o varejo”, prevê Marcelo Maia. Na indústria, o processo de digitalização e conectividade vai acelerar mais ainda, de acordo com Pablo Di Si, e no agro “a digitalização já estava a todo vapor, o sistema remoto de negócios se tornou um grande hub e por aí será o futuro, que foi potencializado pela Covid-19 ”, explicou Paulo Hermann.
“A mudança estrutural exige uma mudança do setor produtivo. No pós-Covid nós teremos, não um processo de transformação digital cadenciado, mas um processo acelerado desse modelo de negócio. Falamos em integrar canais”, concluiu Igor Calvet.