A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) celebraram na manhã desta terça-feira, 12/11, os projetos vencedores do Prêmio ABDI e Anatel de Redes Privativas 2024. Os melhores casos de uso de redes privativas sem fio no Brasil nas categorias Agro; Indústria; Utilities/Mineração, Óleo e Gás; e Outros (Saúde, Educação, Pesquisa e Logística) – 12, no total – receberam troféus em cerimônia realizada na sede da Anatel, em Brasília.
O chefe de gabinete da ABDI, Leandro Cerqueira, representou a Agência em uma celebração concorrida e prestigiada por representantes da indústria de telecom. Na abertura da cerimônia, ele enfatizou a importância das redes privativas para a transformação digital do setor produtivo. “Não é possível pensar a indústria brasileira fazendo saltos maiores sem um ambiente de conectividade apropriado que permita que o Brasil possa disputar a competição tão acirrada em nível global como nós temos hoje, no mundo, onde a tecnologia, cada vez mais, é um fator determinante para o sucesso da indústria.”
“Pensar uma premiação como essa, em que a gente estimula, descortina boas experiências que acontecem hoje no Brasil, sem sombra de dúvidas, é algo que merece ser ressaltado”, concluiu Cerqueira.
O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, celebrou a parceria com a ABDI ao destacar a necessidade de se aproximar as atividades finalísticas da indústria e as empresas de telecomunicações – as primeiras, muitas vezes desconhecedoras das tecnologias disponíveis; as segundas, dos desafios enfrentados nos parques de produção.
“A ideia dessa premiação foi tentar reduzir essa distância e demonstrar para todas as diferentes áreas, o agro, a indústria, o óleo e gás, a logística, por meio de bons projetos, por meio de boas iniciativas, todo o potencial que a tecnologia pode trazer”, apontou.
Ao favorecer essa aproximação, acrescentou Baigorri, o Prêmio trabalha em favor da atual política do Governo Federal de reindustrialização do país. “A Nova Indústria Brasil tem um desafio sobre digitalização da indústria e a ideia desse projeto, dessa premiação é justamente reduzir essa distância e garantir que todo o potencial da tecnologia seja efetivamente explorado pelos diferentes setores da economia brasileira”.
O ato de entrega dos troféus também foi precedido por uma explanação do gerente substituto da Unidade de Difusão de Tecnologias da ABDI, Valdênio Araújo, sobre a segurança e a rapidez ofertada pelas redes privativas sem fio não só nos negócios, mas também na saúde e em ações de inclusão social.
“Os mercados estão funcionando cada vez mais próximos do que a gente chama de tempo real. E para suportar essas tomadas de decisões, esse planejamento da indústria, a gente precisa de dados”, explicou. “E esses dados só vêm através da conectividade, seja na indústria, seja no agro, seja na saúde ou seja no movimento de inclusão social, conectando comunidades ao empreendedorismo digital”.
Experiência transformadora
As soluções premiadas na Anatel na manhã desta terça-feira revelaram a ampla diversidade de aplicações das redes privativas sem fio. O projeto Nova Era da Conectividade no Brasil, da ISPS do Brasil (Tá Telecom), uma das redes vencedoras da categoria Agro, opera em áreas de baixa densidade populacional, vilas e distritos rurais das regiões Norte e Centro-Oeste do país.
Segundo o CEO da empresa, Rudinei Gerhart, a rede cobre, em 4G, comunidades agrícolas, áreas de difícil acesso e localidades que antes não tinham cobertura móvel, como o distrito de Migrantinópolis, no município de Novo Horizonte do Oeste, em Rondônia.
A intenção do projeto, explicou Gerhart, é promover inclusão digital com o provimento de conectividade – fator, segundo ele, essencial para o desenvolvimento econômico local. “Implementar essa rede tem sido uma experiência transformadora. Conseguimos levar conectividade para comunidades que estavam completamente desconectadas, abrindo novas oportunidades para educação, comércio e segurança”.
A iniciativa conta com parcerias estratégicas entre a Tá Telecom, provedores regionais e autoridades locais, além de fornecedores e integradores como IXCSoft, Baicells e Telesys. “Esses parceiros desempenham um papel essencial ao compartilhar infraestrutura e conhecimento técnico, o que torna viável a expansão de redes em áreas remotas. Essa colaboração permite que a conectividade chegue aonde antes não era economicamente viável para operadoras tradicionais”, comemorou.
“A cada avanço, vemos o impacto direto na qualidade de vida das pessoas, e isso reforça nossa missão de tornar a inclusão digital uma realidade para todos os brasileiros, independentemente de onde vivem”.
Usinas de açúcar e álcool
O projeto 5G5M – Conectividade em 5 minutos, do Senai São Paulo, um dos mais bem avaliados na categoria Indústria, por sua vez, faz uso de equipamentos 5G móveis projetados para possibilitar sua operação em qualquer local. O sistema, em uso desde agosto passado, é usado em operações não somente do próprio Senai, mas em parcerias com empresas para realizarem testes com a tecnologia de Quinta Geração.
Negócios que têm demanda por redes privativas e necessitam testar ou validar a viabilidade técnica de sua implementação – oriundos, atualmente e em sua maioria, das indústrias do agro, de alimentação e metalurgia –, podem utilizar os equipamentos para esse fim.
O técnico do Senai-SP Wilson Cardoso descreveu um dos trabalhos executados pelo projeto na modernização de usinas de açúcar e álcool. “Eu não posso parar o processo que está existente. Então, a gente põe uma rede paralela, com a 5G5M, e, a partir disso, a gente começa a levantar uma rede de sensores em paralelo. Quando essa rede está estável, a gente faz a migração da rede ligada para a rede digital”.
Segundo Cardoso, os dispositivos são igualmente empregados em feiras e eventos para divulgação de inovações tecnológicas.
Religadores e subestações
Um dos três sistemas vencedores da categoria Utilities, Óleo e Gás, o projeto “LTE em 250 MHz em São Leopoldo (RS)”, em 4G, é operado em parte da concessão da distribuidora Rio Grande Energia (RGE), que integra o grupo CPFL Energia e cobre a cidade gaúcha e sua região metropolitana.
Segundo a engenheira em Telecomunicações da CPFL, Rita de Cássia dos Anjos, a implantação da rede privativa LTE, cuja operação e gestão da rede é feita por equipes próprias do grupo, com suporte da Trópico Telecomunicações, trouxe uma transformação importante para a operação remota do sistema elétrico da RGE.
“Com uma infraestrutura de telecomunicações dedicada, conseguimos monitorar e controlar remotamente religadores e subestações com maior confiabilidade e agilidade, reduzindo o tempo de resposta em situações críticas e contribuindo para a melhora da qualidade do fornecimento de energia”, explicou.
Entrada e saída de navios
Premiada na categoria Outros/Logística, a rede da Claro denominada ‘Porto de Suape – Controle do Pátio de Veículos’ opera em parte do complexo portuário, localizado entre os municípios do Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife.
Mais precisamente, na área em que carros importados ou exportados percorrem para entrar ou sair dos navios.
O sistema usa Inteligência Artificial para ler as tags presentes em cada carro e monitorar a localização exata de cada chassi no pátio de veículos.
O sistema é resultado de uma parceria da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério de Portos e Aeroportos com a Embratel. Também com apoio da Nokia e a Aws, a tecnologia com rede 5G Standalone (SA) e câmeras inteligentes possibilita que o horário de entrada e de saída e a localização de cada carro no estacionamento sejam facilmente rastreados.
“A implementação do 5G permitiu que diversos procedimentos manuais fossem reformulados em ações digitalizadas, com segurança, disponibilidade, baixíssima latência e velocidade na comunicação”, afirmou a diretora-executiva da Embratel para Governo, Maria Teresa Lima.
Áudio e Vídeo
A TV Globo também foi premiada na categoria Outros – desta vez, no segmento Áudio e Vídeo. O projeto consistiu em câmeras conectadas em 5G na edição de 2023 do programa Big Brother Brasil (BBB). Usada novamente no BBB 2024, uma rede privativa de Quinta Geração possibilitou transferir, quase em tempo real, as imagens geradas por câmeras sem fio.
A iniciativa foi desenvolvida em parceria com a Embratel. “A gente estava tratando uma rede que deveria ter mobilidade, a câmera ficar solta para cobrir os vários cantos da casa, mas que tivesse duas características essenciais: altíssima qualidade, porque o Big Brother é um produto premium, e um delay muito baixo”, disse a gerente sênior de Telecomunicações da Globo, Carolina Duca.
Impacto nos negócios
As 26 iniciativas inscritas no Prêmio foram avaliadas de acordo com critérios definidos nas diretrizes do concurso por uma comissão formada por servidores da Anatel e representantes da ABDI. A parceria entre as duas agências coletou informações dos serviços utilizados pelos projetos para mensurar o impacto que as redes de telecomunicação voltadas a soluções específicas têm em seus negócios do setor produtivo nacional.
Ao avaliar os casos de usos do espectro em redes privativas, o Prêmio ABDI Anatel teve por objetivo estimular esse tipo de investimento e divulgar os resultados alcançados por eles com o uso de redes como 5G, 4G e WiFi 6.
Os 12 sistemas mais bem avaliados pelo Prêmio, cujos representantes receberam, cada um, o Troféu de Conectividade em Redes Privativas, são:
I. Rede Privativa – Agro
Projeto – Nova Era da Conectividade no Brasil: Rede Privativa instalada pela ISPS do Brasil com tecnologia 4G.
Projeto – Fazenda Conectada Agromobility: Rede Privativa da Agromobility tecnologia Ltda. com tecnologias 4G, Wi-Fi e LoRaWAN.
Projeto – Conecta Matsutti: Rede Privativa da Datoria/Arqia com tecnologia 4G.
II. Rede Privativa – Indústria
Projeto – Rede Privativa 5G – Indústria 4.0: Rede Privativa da Nestlé com tecnologia 5G.
Projeto – Rede 5G Bio Manguinhos: Rede Privativa da Bio-Manguinhos/Fiocruz, com tecnologia 5G.
Projeto – 5G5M – Conectividade em 5 minutos: Rede Privativa instalada no Senai-SP com tecnologia 5G.
III. Rede Privativa – Utilities / Mineração / Óleo e Gás
Projeto – Ferbasa Private LTE: Rede Privativa da empresa COM3 com tecnologia 4G.
Projeto – LTE em 250 MHz em São Leopoldo: Rede Privativa da CPFL Energia com tecnologia 4G.
Projeto – Comunicação Móvel em Planta Industrial: Rede Privativa instalada na Hughes do Brasil com tecnologia 4G.
IV. Rede Privativa – Outros (Saúde, Educação, Pesquisa, Logística)
Projeto – Porto de Suape – Controle do Pátio de Veículos: Rede Privativa da Claro/Embratel com tecnologia 5G.
Projeto – Controle de Câmeras Robóticas BBB23: Rede Privativa da Globo com tecnologia 5G.
Projeto – Rede Privativa de Gamificação para Ecoturismo: Rede Privativa da IndulgeMe com tecnologia 4G.
Soluções específicas
As redes privativas podem ser definidas como redes de telecomunicação para implementação de soluções específicas, associadas ao serviço limitado privado, para operação em faixas de frequências cujas condições de uso derivam de padrões internacionais que permitem aplicações ponto-multiponto e ponto-área diversificadas. Essas redes são utilizadas por setores como o industrial, de utilities, agropecuário, de negócios, óleo e gás e em outras aplicações privadas cujos requisitos podem divergir daqueles ofertados pelas redes de telecomunicações comerciais.
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