Nesta sexta-feira, 25/10, segundo dia do B20 Summit Brasil, realizado em São Paulo, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, participou do painel “Alavancando o comércio internacional para promover prosperidade e combater a fome”. No evento, líderes empresariais e governamentais debateram como o comércio internacional pode ser usado como uma chave para o crescimento econômico, o desenvolvimento sustentável e o combate à fome.
Cappelli abriu sua fala destacando a importância de se refletir sobre o crescimento do protecionismo como resposta às desigualdades globais. “Eu acho que o protecionismo crescente, mais do que um fenômeno em si mesmo, ele é uma resposta de que nós, enquanto humanidade, estamos falhando no nosso objetivo de um desenvolvimento sustentável e igualitário”, afirmou.
Para ele, o aumento das barreiras comerciais reflete a incapacidade das políticas globais de resolver problemas como a fome e a crise climática. “O protecionismo, na minha opinião, cresce como resposta a um liberalismo selvagem que fez com que nós tivéssemos no mundo hoje a maior concentração de renda e riqueza da história. O que nós temos visto no mundo são centenas de milhões de pessoas que seguem passando fome, sem nenhuma atitude efetiva”, completou.
Prioridades de investimento
Cappelli questionou as contradições nos investimentos globais, criticando o montante direcionado a conflitos armados em detrimento de questões essenciais, como a fome e a emergência climática. Ele também destacou os esforços do governo brasileiro para revitalizar a indústria nacional.
“No que diz respeito ao Brasil e aos países em desenvolvimento, o Brasil voltou a ter política industrial depois de muitos anos. O presidente Lula e o vice-presidente Alckmin lançaram a Nova Indústria Brasil, uma política industrial robusta que vem reconstruindo a indústria nacional”, afirmou. Ele ainda ressaltou a importância de fortalecer os organismos multilaterais, como a ONU, para garantir um comércio internacional mais equitativo e voltado ao desenvolvimento sustentável.
O presidente da ABDI provocou uma reflexão sobre a necessidade de enfrentar a questão da sustentabilidade e da emergência climática, enfatizando a importância de considerar as assimetrias de desenvolvimento entre as nações. “Não é razoável que a gente, à luz da emergência climática, suba barreiras não tarifárias para produtos dos países em desenvolvimento. É penalizar duas vezes essas economias”, ressaltou.
Cappelli também enfatizou que o Brasil não quer ser apenas um exportador de commodities. Ele apontou que o país possui uma “oportunidade extraordinária” na transição energética, especialmente em relação à energia fotovoltaica. “Nós não queremos apenas exportar amônia, metanol, fazer da energia renovável um novo commodity. Nós queremos atrair para cá plantas industriais para desenvolver a indústria brasileira e gerar empregos aqui no nosso país”, disse.
Colaboração global
O painel também contou com a participação de outros líderes que reforçaram a necessidade de cooperação internacional para enfrentar os desafios da fome e da insegurança alimentar. Mario Lubetkin, representante da FAO para América Latina e Caribe, alertou que o mundo não está avançando suficientemente nas ações contra a fome.
“Temos o relatório global que mostra que no mundo há mais de 700 milhões de pessoas com fome, e não estamos mudando as ações. Não podemos simplesmente trazer uma solução, mas combinar soluções entre todos – sociedade, civil, setor privado, governo”, disse Lubetkin.
Marion Jansen, diretora de Comércio e Agricultura da OCDE, destacou que é essencial encontrar um equilíbrio entre a necessidade de alimentar a população e proteger o meio ambiente. Ela defendeu um diálogo contínuo entre países para superar as barreiras ao comércio. “Precisamos ser melhores do que jamais fomos para lidarmos juntos com esses desafios e encontrarmos um consenso”, afirmou.
Tecnologia e inovação
Busi Mabuza, presidente do Conselho da Corporação de Desenvolvimento Industrial da África do Sul, enfatizou o papel da tecnologia na transformação dos sistemas alimentares. Segundo ela, plataformas tecnológicas acessíveis a pequenas e médias empresas podem ser um ponto de virada para melhorar a capacidade de produção agrícola, especialmente no continente africano.
“Isso poderia mudar totalmente o jogo para o nosso continente, se tornaria mais palpável”, explicou Mabuza. O painel foi moderado pelo presidente emérito global da Boston Consulting Group, Hans-Paul Burkner.
O B20 Summit Brasil 2024
O B20 é o fórum de diálogo mundial que conecta a comunidade empresarial aos governos do G20, mobilizando mais de mil representantes do setor privado dos países membros. A edição brasileira reúne sete forças-tarefas e um conselho de ação.
Os grupos de trabalho são formados por empresários do Brasil e estrangeiros que debateram, desde o início do ano, propostas de temas urgentes: Comércio e Investimento, Finanças e Infraestrutura, Emprego e Educação, Transição Energética e Clima, Transformação Digital, Integridade e Compliance, Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura, além do Conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios.
O B20 Summit Brasil ocorre no Clube Monte Líbano, em São Paulo, e tem o patrocínio da Sabic, Aramco, Equinor, Mastercard, JBS, Vrio-Sky, Google, BNDES, BRF-Marfrig, ABDI e Finep, além do apoio institucional do Sebrae e do Conselho do Serviço Social da Indústria (SESI).
Com informações CNI