O agronegócio é o sistema produtivo que mais tem investido em inovação no país, como revelou a última pesquisa de Sondagem da Inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A imagem do campo dissociada da tecnologia de ponta não cabe mais na atualidade, como mostra o projeto da startup Nong, que utiliza drones em projetos ambientais e de agricultura de alta precisão.
O nome da empresa, que em mandarim significa “cultivar”, está relacionado com a vivência do idealizador do negócio, Gabriel do Nascimento. O estudante de Engenharia de Software da Universidade de Brasília (UnB) fez intercâmbio na Beijing University of Aeronautics and Astronautics, pelo programa Ciência Sem Fronteiras em 2017, e voltou da China com uma ideia fixa.
“Havia um projeto sobre o uso de drones na agricultura que me chamou a atenção. Depois que acabou o curso, voltei focado em abrir uma empresa, ainda mais porque o forte do Brasil é o setor de agricultura”, conta Gabriel, que desenvolveu o sistema utilizado nos equipamentos e há um mês abriu a empresa ao lado dos amigos e também estudantes da UnB Luis Lui, da Contabilidade, e Gabriel Postiglioni, da Engenharia Florestal.
A inserção de novas tecnologias na agricultura tem aumentado a produtividade do setor e diminuído custos. No caso da Nong, o uso dos drones permite uma definição e qualidade nas imagens superior às geradas do modo mais comum hoje. “Um satélite gera uma imagem de 30 m² por pixel, enquanto no drone cada pixel retrata 5 cm² do território”, explica Luis Lui.
Acoplados aos drones estão sensores infravermelho e termal, que geram fotos, mapas e dados. As informações auxiliam na contagem de plantas e animais, na identificação de falhas no plantio, na detecção de pragas e doenças, no georreferenciamento da propriedade e no acompanhamento do desenvolvimento da lavoura. “O produtor necessita deste mapeamento o mais preciso possível para a melhor aplicação de insumos, para evitar perdas e para obter os resultados em menos tempo”, afirma Lui.
Projeção
Os testes e a validação do projeto da Nong foram feitos na Fazenda Água Limpa (FAL), com apoio de professores da UnB. Antes de abrir a empresa, os estudantes participaram de uma rodada de negócios no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da universidade e venderam 15% da empresa por R$ 75 mil. Com os recursos, o grupo pôde comprar novos drones que chegam a custar R$ 15 mil.
“A gente tinha um drone que mapeava uma área de 300 a 400 hectares. Hoje temos quatro. Mapeamos fazendas de até quatro mil hectares. O conjunto do drone inclui câmeras infravermelha, NDRE e termal, baterias extras e Ipad para o plano de voo”, detalha Lui.
Além disso, os empresários participaram da AgroBrasília, em maio, o que chamou a atenção de uma grande empresa de Formosa (GO) que queria aumentar o valor agregado do serviço oferecido aos clientes, que juntos somam 70 mil hectares, e contratou a Nong.
Novos modelos
Pensando nas startups como fornecedoras de soluções para problemas enfrentados na indústria, a ABDI lançou em 2017 o edital do programa de Conexão Startup Indústria, que está na fase de aplicação dos projetos pilotos. O edital de 2018 será publicado no segundo semestre.
“Com o edital, nós pegamos, de forma sigilosa, as demandas tecnológicas das indústrias e conectamos o setor com as startups capazes de resolverem os problemas. A gente não está falando de startup de aplicativos, mas de soluções industriais, aquelas que tratam com hardware ou, software mais pesado para redução de custos”, detalha Rodrigo Rodrigues, coordenador de Inovação e Indústria de Alto Impacto da ABDI.
Como resultado do primeiro edital, foram aproximadas 10 indústrias com 27 startups, totalizando 32 projetos. A metodologia da ABDI e o aporte financeiro que a Agência realiza nas startups faz com que as indústrias tenham mais confiança no processo.
“Quem escolhe é a indústria, a gente apenas sugere, mas estar com a ABDI fazendo o trabalho metodológico e entrando com recursos mitiga os riscos. Trabalhar com startups na indústria ainda é uma coisa a ser desmistificada no Brasil, por isso, além de criar o ambiente e conectar as duas pontas, a gente faz este acompanhamento de como está a relação. O programa é para a indústria e utiliza a startup como meio para levar novas tecnologias, novos modelos de negócios, metodologias para dentro dela”, conclui Rodrigo.