Quem já experimentou, sabe a qualidade que tem um queijo Canastra, produzido de forma artesanal em uma das cidades da Serra da Canastra, em Minas Gerais. Ou as particularidades de um vinho produzido na Serra Gaúcha. Assim como esses produtos típicos de cada região, mais um terá destaque pelo local de sua produção: é o café de Rondônia.
A região amazônica acaba de ter reconhecida a primeira Indicação Geográfica (IG) Matas de Rondônia para Robustas Amazônicos de café canéfora (robusta e conilon) sustentável do mundo. Este reconhecimento foi concedido no início deste mês (01/06) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e consolida a qualidade dos cafés da espécie Coffea canephora.
O selo, que atesta a originalidade e a singularidade de um produto ou serviço, vai valorizar o comércio local, o produtor e até mesmo o turismo na região, como explica o presidente da Cafeicultores Associados da Região Matas de Rondônia (Caferon), Juan Travain.
“A IG traz muitas mudanças não só para o cafeicultor, mas toda a cadeia produtiva e comunidade que compõem os municípios. Agora poderemos exportar o nosso café. Já estamos em negociação com 13 países. Além disso, o anúncio do reconhecimento já trouxe visibilidade para nossa região e já estamos trabalhando em formas de ampliar o turismo”. Juan Travain destacou também a atuação da ABDI. “Nada disso seria possível sem o conhecimento técnico e a agilidade da Agência”, concluiu.
Mas o que esse café tem de diferente? Para conseguir a notoriedade, o café deve ter todas as características da região. É preciso apresentar documentos e levantamentos científicos que comprovem qualidade do solo e características genéticas e geográficas únicas da produção. De acordo com o pesquisador do órgão, Enrique Alves, “os estudos da Embrapa mostraram que o café tinha características únicas em relação às outras regiões do Brasil e esses atributos tinham relação direta com o ambiente amazônico.” Ele completou ainda que é uma “mistura que leva em consideração clima, solo, genética e aspectos culturais da população envolvida no processo produtivo”.
Para o Analista de Produtividade e Inovação da ABDI Antônio Tafuri, o impacto do reconhecimento é positivo já que organiza formalmente uma cadeia de valor desde o produtor até a agroindústria que beneficia e comercializa o produto final. "Encontramos em Cacoal uma pérola chamado café robusta. Logo vimos o potencial da região em se tornar uma referência neste tipo de café, nacional e internacionalmente. Com a participação ampla e muito forte dos produtores e entidades regionais, com destaque para a Embrapa, parceira no desenvolvimento e aperfeiçoamento dos grãos, avançamos de modo ágil no processo de reconhecimento e alcance da IG Matas de Rondônia. É uma satisfação muito grande dar a contribuição da ABDI para o desenvolvimento regional do norte do país, por meio do café”, afirma.
A ABDI, em parceria com Prefeitura de Cacoal, iniciou os esforços em 2017, junto com outras instituições. A Agência foi responsável pelo diagnóstico, articulação com os parceiros institucionais (públicos e privados, até mesmo internacionais, como a Plataforma Global do Café), pela aprovação de recursos, contratação e execução do projeto.
“Encontramos uma convergência grande entre as instituições locais e foi fácil de mobilizar as parcerias. Todas tinham a vontade de que a produção de Rondônia se destacasse. Então, além de ter um Arranjo Produtivo Local já bem estruturado, tínhamos alta produtividade e produtos de qualidade que já estavam sendo premiados. Rondônia sempre foi tido como um patinho feio, mas, na verdade, era um belíssimo cisne”, destacou Aguinaldo José de Lima, consultor enviado pela ABDI e diretor executivo de assuntos institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS).
Para um dos produtores mais tradicionais da região e atual presidente da Câmara do Café, Ezequias Brás Neto, o “Tuta”, o reconhecimento da Indicação Geográfica Matas de Rondônia foi uma grande conquista para a cadeira produtiva local. “Hoje, Rondônia é conhecida no mundo inteiro como o melhor café robusta. Graças a um esforço coletivo, os nossos produtores recebem prêmios e visibilidade mundial”, destacou.
Zona da Mata
A área da Indicação Geográfica abarca 15 municípios de uma região conhecida como Zona da Mata. São eles: Alta Floresta d’Oeste, Cacoal, São Miguel do Guaporé, Nova Brasilândia d’Oeste, Ministro Andreazza, Alto Alegre dos Parecis, Novo Horizonte do Oeste, Seringueiras, Alvorada d’Oeste, Rolim de Moura, Espigão d’Oeste, Santa Luzia d’Oeste, Primavera de Rondônia, São Felipe d’Oeste e Castanheiras.
Participaram dos esforços as instituições: Mapa, Seagri-RO, Emater-RO, Embrapa-RO, Sebrae-RO, Abic, Abics, Cecafé; Plataforma Global do Café (GCP) e GRAS/4C.
Indicação Geográfica
A Indicação Geográfica (IG) é um método utilizado em diversos países do mundo para proteger a propriedade intelectual de produtos ou serviços do uso de terceiros. Como resultado, comunica-se ao mundo que uma certa região se especializou e tem capacidade de produzir um artigo diferenciado e de excelência.