O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, participou nesta terça-feira, 29/10, em Brasília, do dia de abertura da Semana de Inovação da Escola Nacional de Administração Pública (Enap).  Cappelli integrou o painel “O impacto da pesquisa e desenvolvimento e dos parques tecnológicos para o desenvolvimento do Brasil” ao lado de representantes da Embrapii e do Parque Tecnológico Itaipu.

O debate provocou reflexões sobre o gap existente no Brasil entre a produção da ciência e a geração de soluções tecnológicas e de inovação, o que leva o país a ocupar o 13º lugar no ranking mundial de produção científica (2023) sem resultados equivalentes no mercado e na sociedade.

“A gente tem um desafio ainda grande, que é superar barreiras e preconceitos existentes entre a universidade e o setor produtivo no país. Porque a universidade olha de lado para o setor produtivo e o setor produtivo olha de lado para ela”, disse Cappelli, antes de lembrar experiências de sucesso no mundo. “Na Alemanha, a universidade e o setor produtivo andam juntos, de mãos dadas”.

As diferenças entre Brasil e Coreia do Sul na produção de papers e em registros de patentes também foi mencionada pelo presidente da ABDI para ilustrar o distanciamento entre academia e indústria. O Brasil, em 2022 ou 2021, produziu nas universidades basicamente o mesmo número de papers que a Coreia do Sul”, disse, em referência às cerca de 10 mil publicações em periódicos e em revistas científicas internacionais nos dois países.

“Só que, no mesmo ano, quando foi para a patente, a Coreia do Sul publicou 23 mil patentes e o Brasil, 250”, enumerou. “Acho que todo mundo tem direito a publicar quantos papers e publicações científicas internacionais quiserem. Agora, na minha opinião, isso tem que estar linkado a um projeto de desenvolvimento do país, que precisa tirar ainda milhares de pessoas da pobreza”, argumento.

Fronteira tecnológica

A relação entre disputas geopolíticas no mundo e o domínio de novas tecnologias foram igualmente lembradas no painel por Cappelli para ilustrar a importância das novas soluções nos tempos atuais e a necessidade de o Brasil se adequar a eles. “Quando a gente fala de pesquisa, desenvolvimento e inovação, a gente está falando de algo que é desafio estratégico de todas as nações do mundo nesse momento. A gente está vivendo uma corrida impressionante na disputa pela fronteira tecnológica”.

Ao dimensionar o desafio do Brasil para melhor se posicionar nesse cenário, o presidente da ABDI apontou um conjunto de oportunidades favoráveis ao Brasil em setores que se destacam, como o agro, o complexo industrial da saúde e a aviação. O potencial da energia solar e a matriz elétrica mais limpa do G20, que, a partir da atual agenda da transição energética no mundo, podem atrair investimentos externos em favor de P&D, também foram lembrados.

ETECs

Os contratos do escritório Hubtec, da ABDI, com a Petrobras e os Correios para assessoramento e consultoria em projetos de Encomendas Tecnológicas (ETECs) ilustraram no painel outro universo de oportunidades, assim como a atuação da Agência em incentivo às compras públicas como instrumento de política industrial para fomentar a inovação.

Destaque para o poderoso poder de compra da Petrobras e do sistema de saúde no Brasil em favor da inovação. “A gente precisa que os gestores públicos tenham segurança jurídica, mas tenham coragem também de utilizar os instrumentos previstos na Lei de Inovação para estimular encomendas tecnológicas, compras públicas para a inovação”, incentivou Cappelli no debate que também reuniu o diretor Administrativo da Itaipu Binacional, Iggor Gomes Rocha, e o gerente de Estratégia da Embrapii, Emanoel Querett.

Semana de Inovação

Promovida anualmente pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), a Semana de Inovação, cuja programação prossegue até esta quinta-feira (31/10), coloca no centro das discussões agendas importantes do momento, aponta caminhos, traz reflexões de todo o mundo, amplia o debate público e reforça a confiança de que mudanças são possíveis. 

O evento fomenta desde 2015 a cultura de inovação entre os agentes públicos, promove a participação social e apresenta tendências e possibilidades para a transformação das organizações.