Cinco tecnologias para tornar a agricultura brasileira digital

Cinco tecnologias para tornar a agricultura brasileira digital

A digitalização do campo pode aumentar consideravelmente a produção das lavouras brasileiras.

Drones, irrigação por controle remoto, aplicativos e inteligência artificial são tecnologias que têm gerado ótimos resultados na agricultura. “A simples introdução de GPS em máquinas colheitadeiras, por exemplo, consegue otimizar o deslocamento dos tratores, economizando combustível”, aponta Guto Ferreira, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

Outro ponto levantado por Ferreira é a quantidade de soluções diferentes. “A tecnologia tem conseguido resolver de forma simples problemas de diversas áreas. Para irrigação, por exemplo, são desenvolvidos pivôs com controle remoto, para controle de pragas podem ser utilizados drones…”. A ABDI mapeou iniciativas em todo o país e traz uma lista com algumas delas. Confira: 

GPS aliado a inteligência artificial 
Os tratores altamente tecnológicos já são uma realidade. O gerente de Implementação de Soluções Integradas da John Deere, Rois Pillon Nogueira, aponta que modelos da marca já podem melhorar o desempenho das lavouras por meio de inteligência artificial. “A máquina me informa o que ela fez e de que forma ela fez. Quando eu junto a informação com um diagnóstico, o desempenho no campo começa a melhorar. Ela pode fazer caminhos menores na plantação economizando combustível, por exemplo. Quando eu incluo a inteligência artificial, a própria máquina começa a operar, diante de algumas situações, otimizando os gastos”, relata.

A usina de cana de açúcar São Martinho, localizada em Pradópolis (SP), desenvolveu um projeto piloto para otimizar o trabalho da sua frota de máquinas. “Temos as informações dos tratores coletadas por cartões de memória. A análise de todo o material demora em média três dias. Então só sabemos dos problemas mecânicos dos equipamentos, ou mesmo de eventuais trajetos equivocados, depois que o problema já está em curso”, destaca o assessor de Tecnologia da empresa, Walter Marccheroni. O projeto prevê que a coleta de dados seja em tempo real, fazendo com que a máquina vá para manutenção antes de quebrar no meio da plantação.   

Aplicativos
Um aplicativo de celular está transformando a cadeia produtiva do leite em Cacoal (RO). Graças à funcionalidade da tecnologia, houve melhora no manejo do rebanho e das pastagens, na coleta e no transporte, aumentando a produtividade. Depois de seis meses de utilização do app “Esteio Coleta” – disponível para sistema android –, a produtividade do queijo da empresa Laticínio Jóia teve um incremento de 3,2%. O app oferece, por exemplo, georreferenciamento desde a coleta do leite, a saída dos caminhões, rota traçada, informações sobre o motorista e a condição das estradas, até o horário da chegada dos tanques no laticínio. A ferramenta também permite melhorar a gestão do rebanho leiteiro pelos produtores, assim como o manejo da pastagem.

O projeto piloto do app foi desenvolvido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) a partir de diagnóstico realizado junto aos produtores locais. “Para cada quilo de queijo, utilizava-se 9,8 litros de leite. Agora, são usados 9,2 litros. Isso representa para o laticínio uma economia de 40 mil reais por mês”, explica o especialista em Desenvolvimento Produtivo da ABDI Antonio Tafuri. A redução de custos chega a R$ 480 mil ao ano.

Um outro aplicativo, desenvolvido por alunos da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, promete traduzir o que a vaca sente. Com um sensor que colocado em uma coleira instalada no pescoço dos animais, é possível monitorar a ruminação. “Até hoje, nós não conseguíamos saber quando o animal precisava ir ao médico, quando tinha que comer ou mesmo se ele gostou da ração. Pelos movimentos diários dele, nós temos estas respostas”, explica Leonardo Martins da CowMed.

Com esses dados, o produtor consegue manejar de forma mais adequada o animal. “Com a análise do ruminar do animal, eu consigo saber com antecedência se ele está ficando doente”, relata Martins. Antes, o mesmo tipo de diagnóstico dependia do olhar do criador. Em um projeto piloto, de um ano, uma fazenda quase dobrou a produção, passando de 1500 litros para 2700.

Drones
Para o controle de pragas, uma tecnologia que tem mostrado ótimo potencial são os drones. As máquinas voadoras permitem uma definição e qualidade nas imagens superior às geradas do modo mais comum hoje. “Um satélite gera uma imagem de 30 m² por pixel, enquanto no drone cada pixel retrata 5 cm² do território”, explica Luis Lui, um dos sócios da empresa Nong. A startup é uma iniciativa de três alunos da Universidade de Brasília. 

Acoplados aos drones estão sensores infravermelho e termal, que geram fotos, mapas e dados. As informações auxiliam na contagem de plantas e animais, na identificação de falhas no plantio, na detecção de pragas e doenças, no georreferenciamento da propriedade e no acompanhamento do desenvolvimento da lavoura. “O produtor necessita deste mapeamento o mais preciso possível para a melhor aplicação de insumos, para evitar perdas e para obter os resultados em menos tempo”, afirma Lui.

Gestão de resíduos
Outra tecnologia que tem ajudado as fazendas brasileiras são as pequenas usinas de biomassa. O conceito não é tão novo, mas vem se popularizando cada vez mais. A matéria prima para geração de energia é praticamente qualquer tipo de rejeito. Ou seja, um agricultor de milho pode usar as cascas do produto – que normalmente iriam para o lixo – como combustível para o funcionamento da caldeira. Um projeto da ABDI, em conjunto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Agroenergia, por exemplo, pretende fazer um mapeamento dos resíduos gerados pela atividade agrícola. 

Um dos principais benefícios destacados pelos desenvolvedores do projeto é a possibilidade de geração de energia pela biomassa. “A ABDI identificou, em 2017, que existe uma carência de energia elétrica – em quantidade e qualidade – na região agrícola de Mato Grosso (onde ocorre o projeto piloto). Atualmente, cada novo empreendimento que surge é obrigado a pensar em alternativas para obter luz elétrica”, destaca o especialista em desenvolvimento produtivo da Agência Antônio Tafuri. 

Em Foz do Iguaçu, outro projeto piloto, desenvolvido na Usina de Itaipu, vai pelo mesmo caminho. A planta de biogás processa 500 quilos de restos de alimentos gerados nos restaurantes do complexo de Itaipu e transforma o composto em energia. 

“Essa matéria orgânica é misturada em um reservatório. Nesse local, conseguimos controlar a temperatura e fazer com que as bactérias se alimentem daquele material. Através da digestão gera gás”, explica o técnico Rodrigo Pastl. Depois, esse gás ainda passa por um processo que o transforma em biometano – combustível para abastecer 80 veículos da frota de Itaipu.

Irrigação
Uma das principais técnicas para irrigar lavouras no Brasil são os pivôs centrais. A plantação é feita em círculo. No centro, é fixada uma estrutura que se alonga até a borda da plantação. Na parte superior, são instaladas espécies de grandes chuveiros, que garantem água para a cultura. A técnica é muito utilizada nas lavouras de algodão, feijão, milho e soja. 

Apesar de muito disseminada, a técnica dos pivôs centrais tem alguns problemas recorrentes. O desnivelamento do terreno, normalmente, é uma dificuldade porque as plantas recebem quantidades de água diferentes, além de facilitar a quebra do equipamento. As grandes distâncias percorridas nas fazendas para o bom monitoramento das máquinas também é um desafio.

Uma tecnologia desenvolvida pela startup Irricontrol pretende terminar com o vai e vem nas lavouras e o desperdício de água. A instalação de um equipamento do tamanho de uma caixa de cereal permite o controle remoto das estruturas que chegam a 1,3 km de extensão. “O produtor tem muitos gastos com deslocamento para monitorar, ligar e desligar os equipamentos”, explica Helton Franco, diretor de operações da startup.

A solução também ajuda a controlar a bomba de água, garantindo que as plantas sejam irrigadas de maneira uniforme. “Muitas vezes, pelo desnivelamento do terreno, a bomba de água é pressionada gastando muita energia”, explica Franco. A economia de energia pode chegar a 40%.